sexta-feira, 29 de abril de 2011

Fascismo e erotismo

Imagens promocionais da Nachtmahr

Estou lendo o texto Fascinating Fascism da Susan Sontag. Achei alguns trechos que são interessantes à questão do erotismo presente em Nachtmahr:

"But fascist art has characteristics which show it to be, in part, a special variant of totalitarian art. The official art of countries like the Soviet Union and China is based on a utopian morality. Fascist art displays a utopian aesthetics—that of physical perfection. Painters and sculptors under the Nazis often depicted the nude, but they were forbidden to show any bodily imperfections. Their nudes look like pictures in male health magazines: pinups which are both sanctimoniously asexual and (in a technical sense) pornographic, for they have the perfection of a fantasy."

Mas a arte fascista tem características que fazem parecer, em parte, uma variante especial da arte totalitarista. A arte oficial de países como a União Soviética e China é baseada num moralismo utópico. A arte fascista apresenta uma estética utópica - quanto à perfeição física. Pintores e escultores submetidos ao nazismo frequentemente reproduziam o nu, mas eles foram proibidos de mostrar qualquer imperfeição do corpo. A aparência de seus nus era como a dos homens em revistas de saúde: modelos que são tão hipocritamente assexuados e (num sentido técnico) pornográficos, porque eles têm a perfeição de uma fantasia.

"A utopian aesthetics (identity as a biological given) implies an ideal eroticism (sexuality converted into the magnetism of leaders and the joy of followers). The fascist ideal is to transform sexual energy into a “spiritual” force, for the benefit of the community. The erotic is always present as a temptation, with the most admirable response being a heroic repression of the sexual impulse."

Uma estética utópica (identidade como um dote biológico) implica um erotismo ideal (sexualidade convertida no magnetismo dos líderes e a felicidade dos seguidores). O ideal fascista é transformar a energia sexual em uma força "espiritual", para o benefício da comunidae. O erótico é sempre apresentado como uma tentação, com a mais admirável responsabilidade de ser uma repressão heróica do impulso sexual.

Capa de Mädchen in Uniform

E agora uma curiosidade que não tem muito a ver com o post, mas que está no texto "Propaganda e Persuasão na Alemanha Nazista", de Paula Dieht. A suástica já foi considerada um símbolo com significado de reprodução e, segundo Wilhelm Reich:

"...originalmente o símbolo do sexo que, com o passar do tempo, recebe diferentes significados, entre eles o de uma roda de moinho como símbolo do trabalho" (Wilhelm Reich, em The Mass Psychology of Fascism, 1970, p.106)

E então a própria Paula escreve:

"A atração natural que a suástica exerce através da lembrança do ato sexual (W. Reich) é potencializada com a utilização do vermelho, também de caráter sensual, que aparece como fundo unido ao branco e ao preto na bandeira do partido. ... Cor do sangue, o vermelho recebeu atributos relativos à fertilidade e sensualidade em culturas de vários continentes. Além do caráter sensual, ele é tido coo a cor guerreira e energética que nas sociedades ocidentais, quando combinada com o preto, adquire qualidades satânicas. Já o preto, sendo introspectivo e misterioso, está sempre em relação com o divino: seja em seu aspecto positivo, onde evoca religiosidade e transcendência, ou em seu lado negativo, onde simboliza a morte." (p.108-110)

Aqui devemos esquecer a função da suástica, já que ela não existe em Nachtmahr, mas reforçar o erotismo e as cores vermelho, preto e branco.

Foto promocional do álbum Alle Lust will Ewigkeit
Bonus: Vale a pena dar uma olhada nesta entrevista que o Thomas Rainer cedeu para a Side-Line... deixo em destaque este quote:

"Ever since I started making music, I've made it clear that I have absolutely no political message whatsoever behind my music. If anyone has ever bothered to attend my live performances all of my backing videos feature anti-war quotes in huge giant letters that you would have to be blind not to see! Still, people will come to my shows with their minds already made up, see us up on stage with netting and arm bands and immediately think that we're somehow Nazis. It's like that old book, Where's Waldo? Except for these people it's Where's Hitler?, and they're just seeing Adolf there because they want to, not because it's actually in anything that I do. It's kind of sad, really, but just to say again, there's absolutely nothing political about my music, period."

Desde que comecei a compor músicas, eu deixei claro que não tinha absolutamente nenhuma mensagem política ou qualquer coisa do tipo por trás da minha música. Se alguém um dia se importou em ir às minhas performances ao vivo, todos os vídeos projetados apresentam mensagens anti-guerra em letras garrafais que você tem que ser cego para não ver! Mesmo assim, as pessoas vêm aos meus shows com suas cabeças já feitas, vendo-nos no palco com as redes e faixas nos braços e imediatamente pensam que somos, de alguma forma, nazistas. É como aquele velho livro Onde está o Wally? exceto que para essas pessoas é "Onde está Hitler?" e eles estão vendo Adolph lá porque eles querem ver, não porque é realmente algo que eu faça. É um pouco triste, na realidade, mas apenas para reforçar, não há nada político na minha música.

Abaixo dessa resposta, ele diz que as pessoas não entendem o senso de humor dele, que chega a ser próximo daquele feito pela Combichrist. 

Mais uma foto promocional do álbum Alle Lust will Ewigkeit. Reparem que o retrato acima do piano contém uma foto do Thomas Rainer

Um comentário:

  1. Você viu o filme "Porteiro da Noite"? A estética dessas fotos é inspirada no filme. Beijo, Lidia!

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