terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Salvador Dali e Hitler

Um dos mais famosos artistas do movimento surrealista, o pintor catalão Salvador Dali sempre teve sua cota de polêmica. Além das histórias afetivas entre este e Federico García Lorca ou sua participação no curta Un Chien Andalou (1928), de Luis Buñuel, Dali também se manifestou quanto aos fascismos da época.

O enigma de Hitler (1938)

Enquanto o poeta era morto pelo regime de Franco, o pintor formulava frases como “Hitler me parecia ter umas costas muito comestíveis. Se pudesse teria tirado um pedaço das costas de Hitler, como um pedaço de queijo ‘A vaca que ri’¹” (AJAME, 1984, p.52). Isto é, pensamentos como este ou pinturas como O enigma de Hitler (1938), uma das mais notáveis entre as quais continham colagens ou pinturas do austríaco, puseram Dali em dúvida aos olhos do movimento. André Breton, por exemplo, sentia grande repulsa pelo catalão, especialmente por causa de sua obra O Enigma de Guillaume Tell (1933), no qual foi inserido o desenho da cabeça de Lênin.

O Enigma de Guillaume Tell (1933)

Na realidade, Dali se punha como um artista apolítico, apesar de já ter se rotulado como comunista e anarquista. Mas essa sua "indecisão" foi justamente o que acabou fazendo com que, superficialmente, ele parecesse ter ligações com o fascismo. Afinal, Dali, que também autor da frase "A beleza será comestível ou não existirá", justamente reproduziu um desejo de se alimentar da carne do führer. O fato é que o pintor achava na vida do ditador algo de surrealista, enxergando a abordagem do fascismo em suas obras como apenas uma menção à história - já que a política inevitavelmente faz parte dela.

Em O Enigma de Hitler, Dali incorpou a atmosfera escura e lúgubre da época, transformando o quadro numa espécie de representação de necrópole. "O guarda-chuva pendurado na árvore era similar ao usado pelo premiê britânico Neville Chamberlain; e o telefone mole - erotizante para Dali - fazia referência à frustrada diplomacia que o líder inglês buscou para frear o expansionismo alemão. De acordo com Dali, o quadro profetizava a morte de Hitler e, talvez por isso, a fotografia do Führer situa-se sobre o prato acompanhda de alguns grãos de feijão, como a guarnição que acompanha uma porção de carne" (Folha, 2007).

Enfim, independentemente de a citação ser uma apologia ou uma charada, acima de tudo, deve-se lembrar que Dali foi um provocador, alguém que cutucava e incomodava o inconsciente coletivo através de labirintos psicanalíticos. Tal investida em representar Hitler em suas pinturas foi a gota d´água para que ele fosse expulso do grupo de artistas surrealistas, mas o catalão também se aproximou de Franco. E, apesar do conservadorismo do ditador, a cena artística espanhola preservou uma autonomia relativamente grande, se comparada à forma como Hitler e Stalin agiam diante dos artistas conterrâneos.




Referências

Coleção Folha, Grandes Mestres da Pintura. 2007. Trecho disponível em <http://bronzeartes.blogspot.com/2010/02/o-enigma-de-hitler.html>
AJAME, Pierre. As duas vidas de Salvador Dali. São Paulo: Brasiliense, 1986
KenG. The Enigma of Hitler. Disponível em: <http://efference.blogspot.com/2008/10/enigma-of-hitler.html>



¹ "A vaca que ri" é uma marca francesa de produtos de queijo produzidos pela Groupe Bel.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Nazismo em vídeo de Eugenio Recuenco

Eugenio Recuenco é um fotógrafo espanhol conhecido por seus trabalhos no campo da moda. Já trabalhou com vários modelos famosos como Andrej Pejic e Jennifer Pugh, além da banda alemã Rammstein (com quem Gottfried Helnwin também já fez fotos).


Sua obra é caracterizada por um clima soturno muitas vezes acrescentado por elementos bizarros e impactantes, os quais me fazem lembrar a fotografia de filmes como os de Tarsem Singh, Terry Gilliam, Jan Švankmajer e David Lynch. O próprio Recuenco, na verdade, se vê mais próximo de Tarantino e Wong Kar Wai, mas acho que esses diretores que mencionei são bastante próximos ao espanhol.

Há um ano, Recuenco publicou em seu canal no Vimeo um vídeo que parece ser promocional de natal. Apenas com o nome de "Xmas", o curta apresenta um homem velho num apartamento decrépito, preenchido por baratas com suásticas desenhadas nas costas. Ao encurralar uma delas dentro de um copo, o personagem tenta escutar o que acontece no apartamento ao lado, onde duas crianças assistem à televisão ligada num filme ao som de Lili Marlene, música interpretada por Lale Andersen e que foi muito popular tanto para os nazistas e países do Eixo quanto para os Aliados, durante a Segunda Guerra Mundial. Ganhou novas versões feitas por Marlene Dietrich, Connie Francis e Amanda Lear.



A música é originalmente foi escrita por um professor de Hamburgo, em 1915. Hans Leip, na época, tinha entrado para o Exército Imperial Alemão e deu o nome à composição juntando o nome de sua namorada e uma amiga. O poema foi publicado com o nome de Das Lied eines junge Soldaten auf der Watcht (A canção de um jovem soldado durante a vigia), em 1937, com mais dois versos acrescentados, para um ano depois ser musicalizado por Norbert Schultze.

Lili Marlene era muito tocada na Rádio Belgrade, em 1941. A estação, que ficava na Iugoslávia, foi tomada pelas forças alemãs após as mesmas terem invadido o país - por isso seu nome foi mudado para Soldatensender Belgrad (Rádio dos soldados de Belgrado). As transmissões, que abrangiam a Europa e a região do Mediterrâneo, eram caracterizadas pelas poucas opções de canções. Lili Marlene só se acrescentou ao parco repertório da rádio quando um tenente deixou por lá algumas gravações de segunda-mão que havia conseguido em Viena.

Foi justamente por causa dessa precariedade na trilha sonora da rádio Belgrade que Lili Marlene acabou sendo tocada muitas e muitas vezes, a ponto de o Ministro da Propaganda do governo nazista, Joseph Goebbels, ordenar que não mais a tocassem. Porém, a estação recebeu muitas cartas de soldados do Eixo, os quais pediam para que voltassem a tocar a música. Goebbels, então, mudou de idéia e permitiu que a canção fosse transmitida apenas às 21h55.

Lili Marlene ficou tão popular que se tornou parte da rotina e da memória dos soldados, que paravam para ouvi-la à noite.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Novidades no blog, nova pesquisa

"Sol Niger" (1987), auto-retrato de Gottfried Helnwein


Decidi que vou continuar com o blog que usei para o meu TCC agora também para a dissertação que seguirei no mestrado em Comunicação e Semiótica, na PUC-SP. Para quem não acompanhou os posts passados, submeti um projeto de pesquisa sobre o artista austríaco Gottfried Helnwein.

Dei uma reformulada no layout e tentei organizar melhor os tópicos, mas ainda estou mexendo nas tags, tentando adequá-las às postagens e ao interesse alheio. Tentarei, se possível, publicar mais assuntos que gerem discussão e não necessariamente se foquem no meu objeto de pesquisa, mas o tema em geral (arte e fascismo).

Se quiserem conferir a primeira versão do projeto "O Murmúrio dos Inocentes: Fascismo e cultura pop na obra de Gottfried Helnwein" (que ainda será aprimorado, tendo em vista que as aulas e orientações só começarão na semana que vem), acessem o documento abaixo:

PROJETO: O Murmúrio dos Inocentes - Fascismo e cultura pop na obra de Gottfried Helnwein