quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Música industrial

Chegou hoje minha Re/Search Industrial Culture Handbook, mas só a conferi agora há pouco... Então, só deu tempo de ler o editorial dela. Achei bastante legal para exemplificar/explicar o que é música industrial como movimento artístico. Abaixo, versão original, em inglês, e depois em português:

"...By 'industrial' we mean the grim side of post-Industrial Revolution society - the repressed mythology, history, science, technology and psychopathology. By 'culture' we mean the books, films, magazines, records, etc. which have been plucked out of the available information overload as relevant and important.

There is no strict unifying aesthetic, except that all things gross, atrocious, horrific, demented, and unjust are examined with black-humor eyes. Nothing is (or even again will be) sacred, except a commitment to the realization of the individual imagination. These are not gallery or salon artists struggling to get to where the money is: these are artists in spite of art. There is no standard or value left unchallenged.

The values, standards, and content that remain are of a perversely anarchic nature, grounded in a post-holocaust morality. Swept away are false politeness, etiquette, preoccupation with texture and form - all the niceties associated with several generations of art about other art. Starting on a realigned foundation of 'black' history, 'black' science and the 'black arts', these artists have presented their visions reflecting the world as they see it, not the official realities. The problems of morality and critical evaluation are left to the eye of the beholder, and to history - what remains of it. . . .

All art has as its source dreams, the unconscious, and the imagination. And in dreams as in the imagination as in art - nothing in forbidden, everything is permitted. . . ."
Vale. San Francisco 1983

"...Por 'industrial' nós entendemos o lado sombrio da sociedade pós Revolução Industrial - a reprimida mitologia, história, ciência, tecnologia e psicopatologia. Por 'cultura' nós entendemos os livros, filmes, revistas, gravações, etc que têm sido selecionadas do excesso de informação disponível de acordo com sua relevância e importância.


Não há nenhuma unificação estética rigorosa, exceto que tudo que é bruto, horrível, demente e injusto é examinado com os olhos do humor-negro. Nada é (ou jamais será novamente) sagrado, exceto o comprometimento com a compreensão da imaginação individual. Não há artistas de galeria ou salão que lutam para estar onde o dinheiro está: eles são artistas apesar da arte. Não há nenhuma norma ou valor que permaneça sem contestação.


Os valores, normas e o conteúdo que permanecem são de uma natureza perversamente anárquica, baseadas numa moralidade pós-holocausto. São repelidos o falso moralismo, etiqueta, preocupação com textura e forma - todas as sutilezas associadas a diversas gerações artísticas sobre outras artes. A partir de um realinhamento das bases da história 'oculta', ciência 'oculta' e 'artes ocultas', esses artistas têm apresentado suas visões refletindo o mundo da forma que eles o vêem, não como as realidade oficiais. O problema da moralidade e da avaliação crítica são deixados para o olhar do observador e para a história - o que resta dela. . . .


Toda arte tem como fonte os sonhos, o inconsciente e a imaginação. E tanto nos sonhos como na imaginação, assim como na arte - nada é proibido, tudo é permitido. . . ."
Vale. São Francisco 1983

Se tiver interesse nessa publicação, o blog Misterioso Impossível disponibiliza um outro número sobre música industrial e William Burroughs.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Nachtmahr e Nietzsche: Assim Falou Zaratustra



Alle Lust will Ewigkeit é nome do segundo álbum da Nachtmahr, lançado em 2009. A frase, que significa, ao pé da letra, "toda alegria deseja felicidade" e é uma citação de Assim Falou Zaratustra (Also sprach Zarathustra), de Friedrich Nietzsche (tradução em inglês por Thomas Common):

Oh Mensch! Gieb Acht!
O man! Take heed! 
Oh homem! Acalme-se!

Was spricht die tiefe Mitternacht?
What saith deep midnight's voice indeed?
O que a profunda voz da meia noite disse era verdade?

"Ich schlief, ich schlief—,
"I slept my sleep—,
Eu dormia, eu dormia,

Aus tiefem Traum bin ich erwacht:—
From deepest dream I've woke and plead:—
O mais profundo sono do qual eu acordei e implorei:

Die Welt ist tief,
 "The world is deep,
O mundo é profundo,

Und tiefer als der Tag gedacht.
"And deeper than the day could read.
E mais profundo do que o dia em que eu poderia compreender.

Tief ist ihr Weh—,
 "Deep is its woe—,
Profunda é sua desgraça,

Lust - tiefer noch als Herzeleid:
Joy—deeper still than grief can be:
Alegriamais profunda do que o sofrimento pode ser:

Weh spricht: Vergeh!
Woe saith: Hence! Go!
Então diz: É isso!

Doch alle Lust will Ewigkeit
But joys all want eternity
Mas toda alegria deseja eternidade

will tiefe, tiefe Ewigkeit!" 
Want deep profound eternity!"
 deseja uma profunda, profunda eternidade!"


Já a letra da música da banda Nachtmahr é:


Auf Ehrenfeldern zeugen Kreuze,
Em honra pelos campos de cruzes,

von der Helden Tatenruhm.
pelos feitos gloriosos.

Es starb jeder hier im Glauben,
Cada um aqui morreu acreditando,

wahrhaftig seine Pflicht zu tun.
naturalmente em sua tarefa.

In den Augen neuer Menschen,
Nos olhos dos jovens,

lebt die Flamme ewig fort.
vive a chama que continuará para sempre.

Sie tragen stolz der Ahnen Erbe,
Eles orgulhosamente carregam a herança ancestral,

von diesem an den nächsten Ort.
daqueles que estão próximos a este lugar.

Alle Lust will Ewigkeit,
Toda alegria deseja eternidade

tiefe, tiefe Ewigkeit.
profunda, profunda eternidade.

Alle Lust will Ewigkeit,
Toda alegria deseja eternidade

Ewigkeit
eternidade

Assim falou Zaratustra foi um livro bastante apreciado pelos nazistas, por ali estar inserido o conceito do "super-homem" (übermensch) criado por Nietzsche.

"Algumas fontes indicam que Hitler havia emitido um dos livros de Nietzsche, Assim Falou Zaratustra, aos seus soldados. A obra falava sobre a nova época da verdadeira moralidade e poder.William Shirir escreve em The Rise and Fall of the Third Reich que apesar de Nietzsche nunca ter sido um anti-semita, Hitler basicamente via o que ele queria ver nos escritos de Nietzsche. "Hitler frequentemente visitava o museu de Nietzsche, em Weimer, e divulgou sua veneração pelo filósofo posando em fotografias de si mesmo encarando em êxtase o busto do grande homem" RAMSLAND, Katherine. Existential Murder: The Nietzsche Syndrome

No começo da música, como vocês podem notar, há um discurso. Eu não consigo identificar o que é dito em alemão, mas encontrei um usuário no Last.fm indicando que ele fala sobre:

Companheiros, convidados pela comissariado nacional das artes militares, para nós, da capital da Europa, a cidade de Viena, chegam os líderes da fronte musical do império austríaco. Conheça os arautos do apocalipse - Thomas Rainer e seu exército do horror, também conhecido como Nachtmahr!

Ou seja: daria para entender que os campos de cruzes são onde estão enterrados os soldados do nazismo, que morreram com honra, lutando e acreditando em sua tarefa. Não suficiente, essa idéia (chama) pemanece viva nos olhos dos jovens contemporâneos, porque eles carregam consigo a orgulhosa herança ancestral (a ascendência germânica ou ariana?), que é daqueles que estão próximos (à Áustria, de onde Rainer fala) - ou seja, os alemães.  E a música termina com uma citação de Assim Falou Zaratustra, livro preferido do nazismo, do filósofo também preferido pelo nazismo - mas que não transmitia as idéias do mesmo.

Já no discurso inicial, que antecipa a música, eu vejo mais uma brincadeira com a "historinha" que o Rainer monta ao redor da Nachtmahr: se a arte é guerra (Kunst ist Krieg), então há um "ministério" para as artes militares; como austríaco e nascido em Viena, ele defende a terra pátria. E já que o estilo de música de Rainer é o Imperial Austrian Industrial, é claro que ele e sua banda são um exército, que ele atesta como arautos do apocalípse etc...

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Iron Sky: ficção científica com Laibach no trailer


Eu estava xeretando o perfil do Facebook do Thomas Rainer, vocalista da Nachtmahr, e achei como um dos filmes preferidos dele (ou ao menos selecionado entre os cinco mais no perfil) um tal de Iron Sky. Trata-se de um longa que ainda nem saiu, do Energia Productions, mas tem altos trailers no YouTube e várias formas de promoção/financiamento, já que é uma produção independente.

O filme se trata de uma ficção científica sobre nazistas terem chegado à lua e lá terem contruído uma colônia, que sobreviveu até o ano de 2018, que é quando eles voltam à Terra. Os efeitos são bastante bons, os trailers não mostram muito os atores, mas a página do Facebook já dá uma amostra do visual muito parecido com as duas bandas citadas no título: Laibach e Nachtmahr. Eu vejo mais semelhanças com a Nachtmahr pela edição da imagem e o quase fetiche das roupas, mas o posicionamento cômico/irônico que o filme pretende tomar, é mais a cara da banda eslovena que, inclusive, tornou-se trilha sonora de um dos trailers, com um trecho da música B Mashina.



Em um dos comentários, há um lamento quanto ao filme ser uma comédia, mas vai saber até que ponto é engraçado? Será que vai ser algo mais próximo de "O Grande Ditador", com o Chaplin, ou a ironia-cômica e ambígua de Nachtmahr, Feindflug e Laibach? Ou ainda o tom das dezenas de paródias publicadas no Youtube, com "A Queda", com Bruno Ganz interpretando Hitler...

O mais legal é que o diretor publica um monte de coisa tanto no blog quanto no canal do YouTube, onde encontrei uma entrevista com a banda Hanzel und Gretyl, que também se aproxima da estética nazi, mas não tanto. Não parece ser uma preocupação deles, apesar de toda a caracterização do site. Eles são americanos que cantam em alemão e, pelo pouco que eu conheço, fazem músicas com títulos de trocadilho (Scheissmessiah, Hellalujah, Scheissway to Hell etc) e simplesmente adoram a Alemanha. Nada de muito emocionante na entrevista.... mas já uma coisa a se pensar a escolha de terem entrevistado a dupla - a aproximação com músicas do cenário industrial (ou do metal industrial, nesse caso).



Bom, aqui uma entrevista com, provavelmente, os protagonistas do filme (os dois que estão na foto do Facebook). Falam mais ou menos sobre a idéia dos seus personagens e do filme. O mais engraçado é que os comentários mais aprovados e em maior destaque são os que pedem para que os diretores façam os nazistas "ganharem desta vez".



Bem, mas pra que esse filme exista mesmo, eles precisam de financiamento. Se alguém curtiu e ficou curioso, dá uma olhada na lojinha deles. Tem desde camisetas, mousepad, poster, colar, caneta etc... Um bando de coisa vendido em euros.

Pra fechar, deixo o primeiro trailer que eles fizeram, com uma música original para o filme, a Under the Iron Sky.



Acompanhem o projeto via Twitter, Facebook e Flickr.