sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Análise do vídeo Mein Herz brennt, do Rammstein

Originalmente parte do álbum Mutter (2001), a música Mein Herz brennt faz parte de um novo single lançado pela banda alemã Rammstein, neste ano. A gravação, que leva o mesmo nome da faixa, traz uma versão em piano, um remix da Boys Noise, uma canção inédita chamada Gib mir deine Augen e a versão do clipe, que foi divulgado no último dia 7. Dirigido por Zoran Bihać (que também trabalhou com a banda nos vídeos de Links 2-3-4, Mein Teil e Rosenrot), o clipe original (ou explícito) também conta com um outro que traz Till cantando Mein Herz brennt na versão piano. Ambas as obras audiovisuais foram gravadas na mesma locação, o antigo hospício Beelitz, mais especificamente no sanitário principal.

Da primeira vez que vi, achei que o Rammstein estivesse outra vez trabalhando com o Gottfried Helnwein, já que tem todo um reforço monocromático, figuras enigmáticas e sombrias e também crianças - que é o que mais me fez pensar no artista austríaco. Mas não. Bem, dêem uma olhada na versão explícita.



Seria muito fácil associar toda essa imagética ao período nazista por motivos bastante óbvios e que já motivaram muitas pessoas a chegarem a essa conclusão: banda alemã, música cantada em alemão, violência, pessoas em condições desumanas, agonia etc. Mas, se a letra for observada separadamente, é possível perceber que a temática pode não falar sobre tal período histórico.

Mein Herz Brennt
Meu Coração Queima


Nun liebe Kinder gebt fein acht
Agora, lindas crianças, prestem bastante atenção
ich bin die Stimme aus dem Kissen
eu sou a voz que vem do travesseiro
ich hab euch etwas mitgebracht
eu trouxe para vocês algo comigo
hab es aus meiner Brust gerissen
que arranquei do meu próprio peito
mit diesem Herz hab ich die Macht
com este coração, possuo o poder
die Augenlider zu erpressen
de exercer controle sobre as pálpebras
ich singe bis der Tag erwacht
eu canto até o dia despertar
ein heller Schein am Firmament
uma luz brilhante no firmamento
Mein Herz brennt
Meu coração queima

Sie kommen zu euch in der Nacht
Eles vêm até vocês à noite
Dämonen Geister schwarze Feen
Demônios espíritos fadas negras
sie kriechen aus dem Kellerschacht
Eles se arrastam para fora de cavernas subterrâneas
und werden unter euer Bettzeug sehen
E vêm espiar embaixo de suas cobertas

Nun liebe Kinder gebt fein acht
Agora, lindas crianças, prestem bastante atenção
ich bin die Stimme aus dem Kissen
eu sou a voz que vem do travesseiro
ich hab euch etwas mitgebracht
eu trouxe para vocês algo comigo
ein heller Schein am Firmament
uma luz brilhante no firmamento
Mein Herz brennt
Meu coração queima


Sie kommen zu euch in der Nacht
Eles vêm até vocês à noite

und stehlen eure kleinen heißen Tränen
e roubam suas cálidas pequenas lágrimas
sie warten bis der Mond erwacht
eles esperam até que a lua desperte
und drücken sie in meine kalten Venen
e se esquivam dentro das minhas veias frias


Nun liebe Kinder gebt fein acht
Agora, lindas crianças, prestem bastante atenção
ich bin die Stimme aus dem Kissen
eu sou a voz que vem do travesseiro
ich singe bis der Tag erwacht
eu canto até o dia despertar
ein heller Schein am Firmament
uma luz brilhante no firmamento
Mein Herz brennt
Meu coração queima

Segundo informação retirada do Wikipedia, do verbete sobre o single em inglês, a música aborda um narrador que descreve os terrores de seus pesadelos, de modo que os primeiros versos (Nun, liebe Kinder, gebt fein Acht. Ich habe euch etwas mitgebracht") foram retirados de um programa de tv infantil dos anos 1950, chamado Das Sandmännchen (O pequeno Sandman). Em todo episódio, o personagem contava histórias de dormir, o que acabou inspirando uma versão mais obscura, nessa composição do Rammstein.

Capa do single Mein Herz brennt

Essa personagem mascarada que aparece tanto no clipe quanto na figura acima lembra figuras que fazem parte da história espanhola, na qual o chapéu pontiagudo feito de papelão, chamado "capirote", era usado por flagelados, por sentenciados de pena capital e, durante a Inquisição, os acusados eram obrigados a vestir o modelo ao serem postos sob humilhação em público. O capirote também compunha a indumentária dos nazarenos espanhóis durante alguns de seus atos, na época da Páscoa. Mais tarde, esse mesmo acessório apareceria como inspiração ao grupo Ku Klux Klan que, originalmente, teria se baseado no filme Birth of a Nation, de D. W. Griffith, cujos estilistas retiraram a informação, justamente, do capirote.

Cena de Birth of a Nation

Geißlerprozession (1812-1814), ou Procissão dos Flagelados, de Goya

No hubo remedio (1799), de Goya, parte da coleção Los Caprichos 

Nessa última imagem, podemos vislumbrar que a roupa do personagem central se parece muito com a qual Till veste no começo do clipe, ao usar a máscara com seus olhos impressos e também na versão em piano da música.


Bem, essa é uma alusão que pode ser feita quanto aos elementos pictóricos e suas referências. Acredito que o uso desse chapéu em figuras obscuras seja uma forma que a cultura pop tem se apropriado para criar seres assustadores, desde os Pyramid Heads de Silent Hill até os personagens das fotografias do artista finlandês Juha Arvid Helminen. Mas mais que isso, acho que o vídeo se preocupa em trazer um aspecto onírico próprio ao pesadelo, ainda que este não seja totalmente surreal e despedaçado, porque acompanhamos narrativa mais ou menos linear que se mostra conectada com um passado, que aparece no começo do vídeo na forma de uma foto de uma classe ou de um grupo de crianças, que também é exposto diante de uma parede, vestindo sacos com caretas desenhadas.


E eu tomo essa referência como a mais forte no vídeo do que qualquer ligação com o nazismo que eventualmente possa aparecer. É o fio da meada da minha análise¹. Penso que os pesadelos da letra tenham sido interpretados como pesadelos da infância de um grupo de pessoas, no caso, interpretado pela banda. Esses personagens teriam crescido num orfanato, no qual eram cuidados por uma mulher, que aparece ora como um ser quase assexuado, ora como jovem e ora como velha. 

No primeiro caso, há duas diferentes aparições, uma como ser que vem perturbar à noite (Sie kommen zu euch in der Nacht/Dämonen, Geister, schwarze Feen/sie kriechen aus dem Kellerschacht/und werden unter euer Bettzeug sehen - Eles vêm até vocês à noite/Demônios, espíritos, fadas negras/Eles se arrastam para fora de cavernas subterrâneas/e vêm espiar debaixo de suas cobertas), mas essa mesma figura nua também aparece com uma armação para vestidos antigos, sob a qual esconde ou protege suas crianças, e numa clínica ginecológica - nesses dois últimos exemplos, percebemos que se trata de uma mulher.

A criatura que surge à noite para perturbar e causar pesadelos, o mesmo demônio ou goblin que citei em minha monografia Kunst ist Krieg e que dá nome à banda na qual me foquei, a austríaca Nachtmahr. Este é o nome do ser mitológico germânico que deita no peito da vítima, sufocando-a e dizendo-lhe coisas ao pé do ouvido, de modo a fazê-la ter maus sonhos, como representado em pinturas de Johann Heinrich Füssli

Aqui a figura materna a proteger crianças

Numa das partes do vídeo, essa mesma personagem aparece numa espécie de consultório ginecológico, tentando utilizar um instrumento em sua região pélvica, o que faz parecer algum tipo de método abortivo

Mais tarde, a banda aparece circundando a personagem, numa cena muito parecida com uma fotografia feita por Gottfried Helnwein, depois modificada quando transposta numa pintura em tela

Da primeira vez que vi esse cenário hospitalar, no qual a figura feminina está sob a inspeção de um grupo de homens, os quais são os integrantes da banda, pensei que talvez se tratasse de uma analogia de uma forma de eles atingirem a personagem feminina que povoa suas mentes através de uma terapia ou análise, por exemplo, mas depois vi que era mais uma cena ginecológica, como um parto. De qualquer forma, acho que essa última conclusão não descarta a primeira, porque ainda estamos em âmbito clínico e a metáfora se estenderia à medida que essa personagem é uma mulher responsável por cuidar das crianças apresentadas no clipe e são estas mesmas que fazem seu parto - ou continuam seu procedimento abortivo, portanto, trata-se de uma mulher que não está pronta ou não está na posição de ser mãe, naquele momento, que tem filhos postiços e que não os reconheceria também.


Nesse trecho do vídeo (figuras acima), o personagem de Till confronta a mulher que teria cuidado dele durante sua infância e, por isso, ele a revisita em sua juventude (memória infantil), mas também em sua velhice (memória mais recente e amadurecida). A figura feminina, sempre representada como frágil e pura ao longo do clipe, aparece aqui munida de uma arma, o que a põe na defensiva, como alguém que está pronta para matar, isto é, atacar. Ela protege suas crianças assim como quando as põe debaixo da sua saia, em seu "ninho", mas isso não significa que seus métodos não deixem de ferir esses indivíduos.


Essa cena tanto poderia ser pensada como um método de tortura ou de experimentação com as crianças, sendo revivido no personagem já adulto. Isso é reforçado em outras partes, quando uma garota é visitada durante à noite pela "fada negra" (lembrando a veste negra da figura feminina), então toda em branco, como um fantasma e um demônio que lhe causa pesadelos. Detalhe para o crucifixo no pescoço da personagem.



Ou seja, essas crianças realmente eram submetidas a tratamentos desumanos, ainda que sua "tutora" possua traços angelicais - o que torna o procedimento ainda mais aterrorizante. 


E, por isso, as crianças vestem máscaras de expressão enigmática - não sorriem, mas também não choram, não demonstram nada, apenas escondem. Estão presas num porão onde são assombradas pela figura de chapéu pontiagudo, o horror da infância, que está sempre presente para vigiá-las em seu cativeiro - no porão da mente, no inconsciente. Essa representação acaba ganhando os trajes dos condenados da Inquisição espanhola, como na figura de Goya, que inclusive faz parte de uma coleção na qual o artista propunha uma crítica anticlerical. É possível, então, que a presença do crucifixo no pescoço da mulher não seja assim tão gratuita, mas também traga uma mensagem próxima à do pintor espanhol. Portanto, a narrativa se passaria num orfanato dirigido por freiras, mulheres religiosas - o que é uma prática bem comum.

Assim, as crianças crescem ali, trancafiadas, vigiadas por um trauma que permanece em seu coração, "queimando", querendo explodir seja em forma de ódio/violência ou de amor/paixão. É por isso que o personagem de Till, ao mesmo tempo que tenta sufocar a mulher, também a beija com furor. É a pulsão de Eros e de Tânatos, na qual Freud rememora como popularmente chamado de "ambivalência de sentimentos", mas que diz respeito sobre a tênue linha entre amor e ódio².


"O que mais facilmente se observa e é mais acessível à compreensão é o fato da freqüente coexistência, na mesma pessoa, de um intenso amor e de um ódio intenso. A psicanálise acrescenta ainda a tal que ambos os impulsos sentimentais contrapostos tomam, não raro, também a mesma pessoa como objeto. Só após a superação de todos estes “destinos da pulsão” se apresenta o que denominamos o caráter de um homem, o qual, como se sabe, só muito insuficientemente se pode classificar como “bom” ou “mau”" (FREUD, 1915)

Libertados desse ódio, sentimento anímico, como diz Freud (e me faz remeter à figura feminina da anima em contraposição ao masculino do animus segundo Jung, já que o ódio, no vídeo, é concentrado em uma mulher), essas crianças, então homens, podem fugir do porão onde ficaram trancafiados, presos pelo trauma e pelas memórias, tomando a decisão que os daria um caráter, já que eles superaram essa pulsão após "matarem" o seu ódio (enforcando a mulher) e queimando suas memórias, isto é, o orfanato. E tudo isso acontece num processo doloroso, no qual Till tem seu peito perfurado, seu coração arrancado e comido, lembrando a expressão "eat someone's heart", que significa sentir uma amarga angústia ou tristeza.





"As evoluções psíquicas possuem, de fato, uma peculiaridade que não ocorre em nenhum outro processo evolutivo. Quando uma aldeia se torna cidade ou uma criança se faz homem, a aldeia e a criança são absorvidas pela cidade e pelo homem. Só a recordação pode delinear os antigos traços na nova imagem; na realidade, os materiais ou as formas anteriores foram deixados de lado e substituídos por outros. As coisas passam-se de modo diferente numa evolução psíquica"  (FREUD, 1915)
 Reparem no chapéu pontiagudo e como a figura negra que veste o mesmo acessório continua sendo parte deles mesmos, ou seja, é o próprio trauma. Aqui fogem como crianças, de modo que deveriam ter feito isso muito antes, mas só conseguem fazer na maturidade, ao se tornarem homens e enfrentarem uma evolução psíquica




 Outrora amparados pela "tutora", agora carregando as tochas que incendiam seus passados e medos

 No final, eles fogem dessas memórias, destruindo-as, mas ainda olham para trás. O que me faz pensar... será que é tão fácil assim superar um medo ou um trauma? Apenas sufocando-o, matando-o? Como a aldeia ao se tornar cidade ou a criança ao se tornar homem? Será que eles não continuariam "presos à barra da saia da mãe", como diz um dito popular? Uma possível resposta vem também de Freud

"Dada a falta de mutações, o estado psíquico anterior pode não se ter manifestado em muitos anos, no entanto, persiste de tal modo que em qualquer momento se pode tornar de novo a forma expressiva das forças anímicas, e até a única, como se todas as evoluções ulteriores se tivessem anulado ou regredido. Esta plasticidade extraordinária das evoluções psíquicas não é, na sua orientação, ilimitada; pode considerar-se como uma faculdade especial de involução – regressão – pois sucede, por vezes, que um estádio evolutivo ulterior e superior, que foi abandonado, já de novo se não pode alcançar. Mas os estados primitivos podem sempre ser reconstituídos; o psíquico primitivo é, no sentido mais pleno, imperecível. As chamadas enfermidades mentais despertarão no leigo a impressão de que a vida mental e psíquica ficou destruída. Na realidade, a destruição concerne apenas a aquisições e a desenvolvimentos ulteriores. A essência da enfermidade mental consiste no retorno a estados anteriores da vida afectiva e da função" (FREUD, 1915)
Acredito que esse retorno seja percebido na versão em piano da música. O vídeo, que conta apenas com a atuação do vocalista Till Lindemann, é extremamente expressivo ao demonstrar a loucura e sofrimento do personagem que, no fim das contas, retorna ao calabouço, ao porão de suas memórias, retrocedendo ao seu estado primitivo de medo e sombras. É nesse momento que sobe uma fumaça, como um espírito libertado, não mais através da superação psíquica, mas talvez pelo método da morte.






Referências

Tradução de Mein Herz brennt: http://letras.mus.br/rammstein/32293/traducao.html
FREUD, Sigmund. Escritos sobre a guerra e a morte. 1915 
Mein Herz brennt - Wikipedia: http://en.wikipedia.org/wiki/Mein_Herz_brennt


¹ Esta é uma análise rápida e superficial do clipe, a qual poderia ser ainda mais desenvolvida, mas quis me ater a apenas algumas possibilidades e interpretações pessoais, sem nenhuma pretensão acadêmica ou científica.
² Ainda poderia abordar a questão de Édipo, mas não acredito que isso tenha um peso muito grande neste clipe.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Shows da Death in June são cancelados na Bélgica por motivos políticos


Acabei de receber um e-mail de um colega belga comentando sobre o cancelamento do show da banda inglesa de neofolk Death in June, em seu país. O motivo não é novidade, porém não deixa de ser desagradável aos fãs e provavelmente à banda, que repassou em sua página do Facebook o seguinte recado:

Infelizmente nós informamos que os shows da Death in June na sexta-feira dia 30 de novembro e no sábado, 1º de dezembro, foram cancelados a pedido e sob pressão das autoridades públicas e da polícia!
Portanto, a organização recebeu uma carta informando que "Performances de bandas com temática ou idéias extremistas não podem ser toleradas!"
Nós tentamos tudo para evitar isso, mas não estamos autorizados e toda explicação não foi apreciada. A organização, então, irá acatar essa decisão e evitar multas e penalidades.
Os ingressos serão ressarcidos.

Mais um exemplo de confusão entre arte e política e como bandas com tal posição podem acabar encurraladas por decisões de força maior, provindas de autoridades. Para encerrar, deixo novamente uma citação do líder da banda, Douglas Pearce, a respeito desse tipo de acontecimento.

Toda arte, seja em forma de música, literatura, pintura etc que se preze deve estar aberta à interpretação. Dessa forma, essa postura também acaba gerando atribuições erradas; às vezes boas, às vezes ruins. Esta é a natureza da arte que desafia ou confronta o consumidor, ou o consumidor em potencial, a ter outra interpretação. (PEARCE, 2006)

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O sangue de Helnwein em um retrato de Hitler

Ele se inscreveu no Instituto Experimental de Instrução em Ilustração em Viena, mas logo ficou entediado. Um dia, ele pegou uma navalha e cortou suas palmas, usando o sangue para pintar o retrato de Adolf Hitler. Os acadêmicos fizeram uma tempestade, confiscaram a pintura e Helnwein foi expulso. "Esse foi o momento quando eu percebi pela primeira vez que você pode mudar algo com a estética", diz ele. "Você pode fazer as coisas se moverem de uma maneira bem sutil, pode até mesmo ser forte e vigoroso ao deslizar e oscilar - qualquer coisa, na verdade, se você sabe os pontos fracos e tocá-os sempre tão gentilmente por meio da estética".

 Gottfried Helnwein, the man who used his own blood to paint Hitler - de Kate Connolly

Sem Título (1987) - Coleção Der Untermensch

X Seminário de Pesquisa em Comunicação e Semiótica - PUC/SP


Publico essa notícia como forma de convite aos que quiserem participar do X Seminário de Pesquisa em Comunicação e Semiótica, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Farei parte da segunda mesa redonda, na qual apresentarei meu projeto de pesquisa. O objetivo do evento é gerar discussão e compartilhamento de informações sobre os trabalhos que serão apresentados na data. Confiram os detalhes abaixo para saber como participar - lembrando que os participantes irão receber certificado.

DIA 26 DE NOVEMBRO 2012 
Horário: 9h às 21h
Local : PUC Campus Perdizes, rua Monte Alegre, SALA P 65 

O Seminário é aberto a todos os pós-graduandos, alunos de Graduação e interessados em pesquisas em desenvolvimento no campo da Comunicação e Semiótica. As inscrições são gratuitas e podem ser realizadas mediante e-mail encaminhado à Secretaria do Programa (cos@pucsp.br) e à CEA (pucsemiotica@gmail.com).

PROGRAMAÇÃO

MANHÃ –  9:00 às 12:00
MESA 1 – TRANSCRIAÇÃO E IMAGINÁRIOS MIDIÁTICOS

•       Presentificações do feminino em social impact games - Lúcia Marcia Carvalho Lemos
•       O caráter oracular da mídia: o alento da angustia humana diante do por vir - Nádia Maria Lebedev Martinez Moreira
•       Alfred Wolfsohn na obra de Charlotte Salomon: Uma cartografia que emerge da voz - Paula Maria Aristides de Oliveira Molinari

Mediadores: Profa. Dra. Jerusa Pires Ferreira e Profa. Dra. Christine Greiner

MESA 2 – VIOLÊNCIA E PARADOXOS

•       Comunicação e violência sutil: a debilitação do reconhecimento do sujeito na sociabilidade dromocratizada - Angela Pintor dos Reis
•       A produção de subjetividade na cibercultura: uma abordagem crítico-esquizoanalítica da subjetivação nas redes sociais - Claudio
Luis Cecim Abraão Filho
•       Fotografando sombras:  um estudo sobre a obra do fotógrafo austríaco Gottfried Helnwein - Lídia Zuin de Moura

Mediadores: Profa. Dra. Jerusa Pires Ferreira e Profa. Dra. Christine Greiner



TARDE – 14:00 às 17:00

MESA 3 – EXPERIÊNCIAS SENSÍVEIS

•       Do Realismo ao Estranhamento: a desautomatização do olhar nas fotografias de Pedro Meyer - João Carlos Ruza
•       Editora Cosac Naify: do todo à parte na Coleção Particular - Marc Barreto Bogo
•       Publicidade de Perfume, publicidades de estados de alma:uma análise semiótica da estesia midiática - Taísa Vieira Sena

Mediadores: Profa. Dra. Cecilia Almeida Salles e Prof. Dr. José Amalio de Branco

MESA 4 – NARRATIVAS E PROCESSOS TRANSMIDIÁTICOS

•       A natureza plural dos processos comunicacionais das campanhaspublicitárias em mídias digitais: características e desafios - Miguel Valione Junior
•       O Sitcom de falso documentário: uma análise da comédia na era darealidade televisionada - Fernanda Manzo Ceretta
•       Hibridizações televisivas: a expansão da narrativa na ficção televisiva - Letícia Xavier de Lemos Capanema

Mediadores: Profa. Dra. Cecilia Almeida Salles e Prof. Dr. José Amalio de Branco

NOITE – 18:00 às 21:00

MESA 5 – CORPO E MÍDIA

•       Por trás da cena: as relações entre televisão e os espetáculosteatrais apresentados na cidade de São Paulo entre 1991 e 2012 - Beatriz Helena Ramsthaler Figueiredo
•       So you think you can dance? O discurso do corpo competente em
seriados televisivos contemporâneos - Joubert de Albuquerque Arrais
•       A natureza dos processos comunicacionais entre seres humanos e a
interface de game Kinectic nos aplicativos de dança: características eperspectivas - Valéria Cristiane Aprobato

Mediadores: Profa. Dra. Ana Claudia Mei Alves de Oliveira e Profa.
Dra. Lucrécia D’Alessio Ferrara

MESA 6 – ESPACIALIDADES E REDES
•       No rastro das presenças imaginárias - Eduardo Fernandes Araújo
•       Cartografias subversivas e mapas semiósicos: geopoéticas em mídias locativas - Juliana de Oliveira Rocha Franco
•       Dinâmicas comunicacionais nas redes sociais: Transformações e intercâmbios midiáticos - Mirian Aparecida Meliani Nunes

Mediadores: Profa. Dra. Ana Claudia Mei Alves de Oliveira e Profa.
Dra. Lucrécia D’Alessio Ferrara



CERTIFICADOS DE PARTICIPAÇÃO

Os Certificados (para apresentador de texto e ouvinte) serão expedidos
para participantes com presença em, pelo menos, quatro Mesas de
Trabalho.

COMITÊ CIENTÍFICO

Profa. Dra. Ana Claudia Mei Alves de Oliveira
Prof. Dr. Arlindo Machado
Profa. Dra. Helena Katz
Profa. Dra. Christine Greiner
Prof. Dr. José Luiz Aidar Prado



COMISSÃO ORGANIZADORA

Coordenação Geral do Seminário: Profa. Dra. Lucia Leão
Coordenação do Programa: Profs. Drs. Eugênio Trivinho e Lucrécia Ferrara

Comissão Especial de Assessoramento para Eventos Institucionais (CEA-Eventos):
Gilmar Pereira da Silva
Letícia Xavier de Lemos Capanema
Marc Barreto Bogo
Nádia Maria Lebedev Martinez Moreira
Regina Helena Giannotti
Silvio Anaz
Taísa Vieira Sena


sábado, 17 de novembro de 2012

Deixe-me ser uma imagem


Fiz essa montagem usando o quadro Payton Blue 2 (2009), do Gottfried Helnwein, adicionando uma frase inspirada na constatação feita por Petra Halkes em um texto sobre o quadro American Prayer (2000), de Helnwein. Achei uma frase muito bonita e que combina com a temática do artista vienense. Fez com que eu me lembrasse da palestra do pesquisador alemão Christoph Wulf, que assisti em 2011, na PUC-SP, sobre a qual comento nessa matéria publicada no site da Faculdade Cásper Líbero.

Na França, foram encontrados indícios de homens, mulheres e crianças que haviam sido enterradas deitadas sobre flores. “Eles cuidavam dos mortos, porque acreditavam no fim da vida terrena, mas com um começo da vida no além”, explica. Pensar num mundo além já comprova a morte como imagem imaginária tais como as imagens sacras, especialmente as que representam deus. No caso das representações da morte, usar o crânio de um homem morto (Totenkopf) monta o imagético fúnebre, como no caso de algumas culturas em que a imagem do morto é trazida de volta à comunidade como a ausência do falecido, mas presença da imagem. “É um corpo simbólico e imortal, re-socializado”.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Urso Morto

Acabei de conhecer esse projeto brasileiro chamado Urso Morto, apresentado por um colega do Twitter que dizia que lembrava o trabalho do Hermann Nitsch, o que é verdade em certo ponto (o uso dos esguichos de sangue, de vísceras em instalações etc), mas, sinceramente, na minha opinião, eu diria que isso aqui é ainda mais bonito... Talvez pelo fato da proximidade, mas a narrativa dele me tocou bem mais do que a do vienense. Bem, mas para vocês concordarem ou não, tenho que apresentá-lo.


Fabrício Bambratti é o artista plástico por trás do apelido Urso Morto. Sua fixação pela morte é o mote que dá ritmo ao seu trabalho abrangido em diferentes formatos e técnicas, superfícies e abordagens, mas sempre deixando um rastro de sangue que sabemos bem de onde vem e para onde vai: do Brasil ao Brasil. Em palestra no Festival do Centro Cultural São Paulo, em setembro deste ano, o artista comentou que, desde muito novo, já refletia sobre a morte, entendendo-a já como uma questão primordial da vida e como algo que as pessoas não sabem lidar muito bem.


Assim, sua curiosidade o encaminhou à área da psicanálise, a qual o ajudou a entender um pouco mais sobre o tema que, enfim, tornou-se emblemático em seu trabalho artístico. Mesmo sabendo que poderia ser rejeitado pelo público, procurou ajuda da família, de origem simples, que também nunca esteve de acordo com essa sua forma de expressão. "Eles acham tudo muito estranho, desconfiam que eu não sou normal. Meu avô era encanador da General Motors, meus pais nunca foram a uma Bienal ou exposição, não entendem meu trabalho e têm certeza de que eu nunca vou ganhar dinheiro com isso", comentou Urso, em texto escrito por Laís Prado.

O desafio, então, era maior. Além de precisar cativar o público, ele também deveria encontrar uma forma de convencer a família ou de fazê-la enxergar o significado da arte, principalmente a sua. "Em geral, o artista acaba ficando dentro de um ciclo restrito e não consegue atrair a atenção da maioria para um trabalho mais conceitual, sem atrativos estéticos. Então, resolvi fazer um filme mostrando elementos criados por mim e inseridos no ambiente simples da casa da minha família. Como eles continuam sem entender e gostar do meu trabalho, nunca assistiram ao vídeo, mas eu não desisto", confessa Urso.


Vídeo gravado em Juazeiro do Norte, no interior do Ceará. Segundo Urso, lá, longe de suas referências, ele finalmente encontrou gente que não tem contato nenhum com a arte padrão e, por isso, faz do seu jeito

Nessa mesma palestra que deu ao CCSP, Urso vestia uniforme de atendente do McDonald's, lugar onde trabalha(va) de madrugada. Ele ainda não consegue obter lucro com suas obras, tanto que as faz gratuitamente. "Para melhorar minha situação financeira, fui procurar um emprego e acabei conseguindo uma vaga no McDonald's, na loja da Henrique Schaumann. Infelizmente, observo que as pessoas lá não estão felizes com o que fazem, mas elas continuam no mesmo lugar porque o trabalho é uma forma de segurança. Mas acho que elas sentem o trabalho como uma maldição e não conseguem extrair felicidade dele. Isso não deixa de ser a morte de uma vida melhor", conclui.

Cleide Riva Campelo é responsável pela organização de um livro de Dietmar Kamper chamado "O Trabalho como Vida", publicado pela editora Annablume. Neste, vemos a reflexão sobre o trabalho ao longo da história e como ele se infiltra na vida humana, desfazendo os limites. Mais especificamente sobre trabalho e morte, há o artigo "O trabalho entre a vida e a morte", do Prof. Dr. Norval Baitello Jr.

O mais impactante, para mim, são justamente os vídeos. Esse que coloquei acima foi o que mais me marcou. Além de uma narração em off em tom macio e ao mesmo tempo frio, os efeitos visuais inseridos na gravação dão um aspecto de filme velho e queimado, de um meio termo entre o real e o etéreo, trazendo a cor ocre do sertão e aflorando as minhas reminiscências de histórias que se passam nesse cenário - por exemplo, o livro Vidas Secas, de Graciliano Ramos, onde a sombra da morte também circunda tão forte quanto na obra de Urso Morto. Mas, principalmente, o que mais enriquece essa peça audiovisual é o fato de ela não só ter valor estético como também trazer uma mensagem extremamente forte e sensível aos que conhecem a realidade brasileira, que é apresentada em rápidos vídeos esmaecidos, como trechos de reportagens. A teoria de Pedro sobre as sete mortes é uma poesia genuinamente nativa e suas representações gráficas são tão fortes quanto o reflexo desses motivos nos arredores da personagem.

"Brasil velho sem porteira"

Vendo essa imagem, essa montagem, é inevitável lembrar da canção interpretada por Zé Ramalho, Admirável Gado Novo. Fazendo menção ao livro Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, a música traz o tom distópico da obra literária à melodia que trata de um país que nada mais é do que, enfim, uma distopia, no fim das contas. Fora isso, a trilha sonora dos vídeos de Urso Morto são, justamente, canções brasileiras. Nada mais justo.

Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber...
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer...

E assim segue uma cultura que, enfim, pode não estar dando à arte a sua devida importância, como sugere Urso Morto e como eu também sugeriria. Pelo menos não a todos os tipos de arte, tendo em vista a vasta gama e diversidade de manifestações dentro do país. Todo mundo sabe que o Brasil não é só carnaval, funk carioca e futebol - mas também isso. Que o país e suas belezas ou mazelas podem ser apresentadas muito além do clichê do sertão ou da favela, que podem trazer uma narrativa mágica como a de Pedro ou como, por exemplo, o filme Abril Despedaçado, de Walter Salles.

Termino o post, então, deixando esse "flagra" gravado pelo próprio Urso Morto. Percebam bem a reação da mulher, proprietária da residência. Como ela vê o grafite e como ela reage diante da figura gravada em seu muro. Algo que me fez lembrar a reação de outrém diante da ação coletiva de grafiteiros no túnel da Avenida Paulista, em comemoração ao centenário japonês.



Urso Morto: 

REFERÊNCIAS

PRADO, Laís. Novo Festival do CCSP. Urso Morto veste uniforme do McDonald's em palestra. CCSP. 2012. Disponível em: <http://ccsp.com.br/ultimas/60228/Novo-Festival-do-CCSP>

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Tributo brasileiro a Death in June


Tributo à Morte em Junho é um projeto que reúne oito bandas brasileiras que resolveram homenagear o trabalho do inglês Douglas Pearce, de quem já falei aqui no blog e que também é mencionado em Kunst ist Krieg.

Death in June é uma banda do gênero neofolk conhecida por sua obra controversa e pelo posicionamento do líder, assumidamente gay. Isso se reflete imediatamente no nome dado ao projeto musical, que faz remitência à data em que Ernst Röhm, co-fundador das Sturmabteilung, foi assassinado - acredita-se que, entre outros motivos, por conta de sua sexualidade.

Nesse tributo, há uma grande variação na musicalidade, seja comparando as bandas entre si ou estas em relação ao projeto que homenageiam. É um álbum bastante interessante e que vale a pena ser conferido não apenas por ser um trabalho nacional, mas também por reunir algumas das melhores canções da Death in June, como Rose Clouds of HolocaustBut what ends when the symbols shatter?

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terça-feira, 23 de outubro de 2012

Arnulf Rainer, Hermann Nitsch e Gottfried Helnwein

Estes dois nomes são de mais dois artistas austríacos interessantes que gostaria de apresentar a vocês e que, por acaso, têm uma obra que entra em contato com a de Gottfried Helnwein, assim como é observado no ensaio "Les Autoportraits de Gottfried Helnwein", de Roland Recht:

Nós imediatamente vemos que o vienense Helnwein segue uma tradição que vem do século XVIII, do escultor Messerschmidt, cujos bustos caricaturais receberam longos comentários de um discípulo de Freud. Nós também vemos que seu trabalho entra em contato com o de Arnulf Rainer ou Nitsch, dois outros vienenses que retratam seus próprios corpos numa relação com o dano, a dor e a morte¹ (RECHT, 1988).
Arnulf Rainer



Pintor, gravurista e fotógrafo nascido em 8 de dezembro 1929, em Baden, na Áustria. Começou sua carreira de pintor como auto-didata em meados dos anos 1940, depois de ter deixado a escola. Teve seu primeiro contato com a arte contemporânea através de uma exposição do Conselho Britânico em 1947, no qual estavam inclusos trabalhos de Paul Nash, Francis Bacon, Stanley Spencer, Henry Moore e Edward Burra. Nesse período, produziu seus primeiros retratos, tais como Rainer Dying. Ao começar a estudar na Staatsgewerbeschule em Villach, de 1947 a 1949, passou a se interessar pelas teorias do Surrealismo. Ele teve praticamente nenhum treinamento acadêmico como artista, já que acabou deixando a Hochschule für Angewandte Kunst em Viena em 1949 um dia depois de sua primeira aula, por conta de uma discussão com um professor. Ele permaneceu um pouco mais de tempo na Akademie der Bildenden Künste em Viena, até 1950. De 1948 a 1951, ele produziu desenhos surrealistas de cenas subaquáticas e de formas místicas usando apenas lápis.

Sem Título (Linguagem Corporal) - circa 1973




A partir de 1956, Rainer começou a se focar em teorias e práticas religiosas, demonstrando isso particularmente num grupo de pinturas com formas cruciformes, como Black Cross (1956). O interesse em estados emocionais extremos passa a ser evidente a partir de 1963, quando ele começou a coletar pinturas feitas por pessoas com distúrbios mentais e, em 1964, Rainer passou a experimentar drogas halucinógenas. A partir de 1968, ele começou a usar fotografias de suas mãos e ainda mais frequentemente passou a incluir rostos caricaturais como base de trabalhos que recebiam uma pintura sobre a imagem (como nas fotos acima). Sua preocupação com a variedade de expressões faciais e de linguagem corporal a partir de 1969 passa a simbolizar uma quebra de tabus contra o que é feio, absurdo ou instintivo.

Cruz (1991-92)

Fra Angelico Série 1 (1985)

Desde meados dos anos 1970, Rainer retrabalhou fotografias sobre vários assuntos, incluindo pedras (1974-5), cavernas (1975-7), mulheres )1977) e a obra de vários outros artistas, incluindo Gustave Doré, Leonardo da Vinci, Franz-Xavier Messerschmidt, Vincent van Gogh, Rembrandt van Rijn e Francisco de Goya. Ele também usou imagens de esculturas gregas, múmias, máscaras de morte e cadáveres. Seu retorno à imagem da cruz em uma série de pinturas atestou seu interesse na relação entre a vida e a morte, entre o físico e o espiritual, redenção e sacrifício. Tais temas também foram abordados em sua série Hiroshima, com 72 fotografias que receberam uma nova pintura por cima de suas imagens, as quais retratavam a cidade destruída após a bomba atômica de 1945.


Farting Around Again (1980-82)

Hermann Nitsch

Nascido em Viena, em 29 de agosto de 1938, Nitsch estudou na Wiener Graphische Lehr-und-Versuchanstalt e é conhecido por suas pinturas cheias de respingos que, assim como suas performances, estabelecem um tema de violência representada por tons brilhantes de vermelho, marrons e cinzas pálidos que fazem remitência à mutilação orgânica. Nos anos 1950, Nitsch criou o Orgien Mysterien Theater (o qual pode ser traduzido literalmente como Teatro de Orgias e Mistérios" ou "O Teatro do Mistério Orgiástico"), no qual foram apresentadas cerca de 100 performances entre os anos de 1962 e 1998. Ele é conhecido como um artista do movimento Acionista Vienense, um grupo pequeno e violento que desenvolveu, nos anos 1960, pinturas abstratas na técnica conhecida como "gestualismo".






O trabalho de Nitsch, que pode ser considerado tanto ritualista quanto existencial, chamou a atenção do público pela primeira vez no começo dos anos 1960, quando ele exibiu um cordeiro esfolado e mutilado. O animal, crucificado em uma parede coberta por panos brancos, teve suas entranhas removidas e exibidas abaixo, numa mesa branca suja de sangue e água quente. Essa instalação ainda acompanhava a trilha sonora composta pelo próprio Nitsch, a qual ele deu nome de "Geräuschmusik" (algo como Barulho da Música). As obras subsequentes incorporaram vários outros elementos similares, frequentemente combinando animais mutilados com frutas vermelhas, música, dança e participantes artivos. Nitsch sobrepôs os intestinos de animais mutilados com ícones como crucifixos, satirizando e questionando a ética e a moral da religião atávica e do sacrifício. Atualmente seu trabalho tem sido discutido num contexto sobre nossa cultura ser aficcionada pela violência vista nas notícias, no cinema e nos videogames. Como curiosidade, vale acrescentar que Nitsch fora repetidas vezes multado, julgado e mesmo condenado à prisão.

Um grupo de atores contratados por Nitsch separam a carcaça de um novilho sobre um homem crucificado e vendado. A performance foi realizada durante o ato 111 na Fondazione Morra, em Nápoles, em 2002




Tendo tudo isso exposto, as possíveis comparações a serem feitas entre a obra desses artistas e de Helnwein parecem bem mais evidentes.

Anna (2010) - Gottfried Helnwein
Ambos tratam de assuntos violentos e fúnebres; 

Self-Portrait 29 (1991) - Gottfried Helnwein
Rainer trabalha com autoretratos e caretas, assim como Helnwein;


The Disasters of War 3 (2007) - Gottfried Helnwein
Tanto Helnwein quanto Nitsch trabalham com a imagem do sangue, os tons rubros e acinzentados, além das representações de mutilação



Tanto Helnwein quanto Rainer são fotógrafos e retrabalham com suas fotos. O primeiro faz quadros hiperrealistas das fotografias, enquanto o segundo pinta sobre elas



Referências

RECHT, Roland. Les Autoportraits de Gottfried Helnwein. Conservateur en Chef des Musées de Strasbourg. 1988. Disponível em: <http://www.helnwein.com/kuenstler/biografie/artikel_907.html>

SEVERIN, Ingrid. Arnulf Rainer. Grove Art Online. 2009. Disponível em: <http://www.moma.org/collection/artist.php?artist_id=4792>

VOGT, Jonas; NUSSBAUMER, Alexander. Hermann Nitsch. 2011. Disponível em: <http://www.vice.com/read/hermann-nitsch-595-v17n11>

WIKIPEDIA. Hermann Nitsch. <http://en.wikipedia.org/wiki/Hermann_Nitsch>

¹ On voit aussitôt ce que Helnwein le Viennois doit à toute une tradition remontant au XVIII° siècle, au sculpteur Messerschmidt dont les bustes grimaçants ont fait l'objet d'un long commentaire par un disciple de Freud. On voit aussi ce que ce travail a de commun avec ceux d'Arnulf Rainer ou de Nitsch, deux autres Viennois qui mettent en scène leur propre corps dans son rapport à la blessure, à la douleur et à la mort.