quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Shows da Death in June são cancelados na Bélgica por motivos políticos


Acabei de receber um e-mail de um colega belga comentando sobre o cancelamento do show da banda inglesa de neofolk Death in June, em seu país. O motivo não é novidade, porém não deixa de ser desagradável aos fãs e provavelmente à banda, que repassou em sua página do Facebook o seguinte recado:

Infelizmente nós informamos que os shows da Death in June na sexta-feira dia 30 de novembro e no sábado, 1º de dezembro, foram cancelados a pedido e sob pressão das autoridades públicas e da polícia!
Portanto, a organização recebeu uma carta informando que "Performances de bandas com temática ou idéias extremistas não podem ser toleradas!"
Nós tentamos tudo para evitar isso, mas não estamos autorizados e toda explicação não foi apreciada. A organização, então, irá acatar essa decisão e evitar multas e penalidades.
Os ingressos serão ressarcidos.

Mais um exemplo de confusão entre arte e política e como bandas com tal posição podem acabar encurraladas por decisões de força maior, provindas de autoridades. Para encerrar, deixo novamente uma citação do líder da banda, Douglas Pearce, a respeito desse tipo de acontecimento.

Toda arte, seja em forma de música, literatura, pintura etc que se preze deve estar aberta à interpretação. Dessa forma, essa postura também acaba gerando atribuições erradas; às vezes boas, às vezes ruins. Esta é a natureza da arte que desafia ou confronta o consumidor, ou o consumidor em potencial, a ter outra interpretação. (PEARCE, 2006)

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O sangue de Helnwein em um retrato de Hitler

Ele se inscreveu no Instituto Experimental de Instrução em Ilustração em Viena, mas logo ficou entediado. Um dia, ele pegou uma navalha e cortou suas palmas, usando o sangue para pintar o retrato de Adolf Hitler. Os acadêmicos fizeram uma tempestade, confiscaram a pintura e Helnwein foi expulso. "Esse foi o momento quando eu percebi pela primeira vez que você pode mudar algo com a estética", diz ele. "Você pode fazer as coisas se moverem de uma maneira bem sutil, pode até mesmo ser forte e vigoroso ao deslizar e oscilar - qualquer coisa, na verdade, se você sabe os pontos fracos e tocá-os sempre tão gentilmente por meio da estética".

 Gottfried Helnwein, the man who used his own blood to paint Hitler - de Kate Connolly

Sem Título (1987) - Coleção Der Untermensch

X Seminário de Pesquisa em Comunicação e Semiótica - PUC/SP


Publico essa notícia como forma de convite aos que quiserem participar do X Seminário de Pesquisa em Comunicação e Semiótica, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Farei parte da segunda mesa redonda, na qual apresentarei meu projeto de pesquisa. O objetivo do evento é gerar discussão e compartilhamento de informações sobre os trabalhos que serão apresentados na data. Confiram os detalhes abaixo para saber como participar - lembrando que os participantes irão receber certificado.

DIA 26 DE NOVEMBRO 2012 
Horário: 9h às 21h
Local : PUC Campus Perdizes, rua Monte Alegre, SALA P 65 

O Seminário é aberto a todos os pós-graduandos, alunos de Graduação e interessados em pesquisas em desenvolvimento no campo da Comunicação e Semiótica. As inscrições são gratuitas e podem ser realizadas mediante e-mail encaminhado à Secretaria do Programa (cos@pucsp.br) e à CEA (pucsemiotica@gmail.com).

PROGRAMAÇÃO

MANHÃ –  9:00 às 12:00
MESA 1 – TRANSCRIAÇÃO E IMAGINÁRIOS MIDIÁTICOS

•       Presentificações do feminino em social impact games - Lúcia Marcia Carvalho Lemos
•       O caráter oracular da mídia: o alento da angustia humana diante do por vir - Nádia Maria Lebedev Martinez Moreira
•       Alfred Wolfsohn na obra de Charlotte Salomon: Uma cartografia que emerge da voz - Paula Maria Aristides de Oliveira Molinari

Mediadores: Profa. Dra. Jerusa Pires Ferreira e Profa. Dra. Christine Greiner

MESA 2 – VIOLÊNCIA E PARADOXOS

•       Comunicação e violência sutil: a debilitação do reconhecimento do sujeito na sociabilidade dromocratizada - Angela Pintor dos Reis
•       A produção de subjetividade na cibercultura: uma abordagem crítico-esquizoanalítica da subjetivação nas redes sociais - Claudio
Luis Cecim Abraão Filho
•       Fotografando sombras:  um estudo sobre a obra do fotógrafo austríaco Gottfried Helnwein - Lídia Zuin de Moura

Mediadores: Profa. Dra. Jerusa Pires Ferreira e Profa. Dra. Christine Greiner



TARDE – 14:00 às 17:00

MESA 3 – EXPERIÊNCIAS SENSÍVEIS

•       Do Realismo ao Estranhamento: a desautomatização do olhar nas fotografias de Pedro Meyer - João Carlos Ruza
•       Editora Cosac Naify: do todo à parte na Coleção Particular - Marc Barreto Bogo
•       Publicidade de Perfume, publicidades de estados de alma:uma análise semiótica da estesia midiática - Taísa Vieira Sena

Mediadores: Profa. Dra. Cecilia Almeida Salles e Prof. Dr. José Amalio de Branco

MESA 4 – NARRATIVAS E PROCESSOS TRANSMIDIÁTICOS

•       A natureza plural dos processos comunicacionais das campanhaspublicitárias em mídias digitais: características e desafios - Miguel Valione Junior
•       O Sitcom de falso documentário: uma análise da comédia na era darealidade televisionada - Fernanda Manzo Ceretta
•       Hibridizações televisivas: a expansão da narrativa na ficção televisiva - Letícia Xavier de Lemos Capanema

Mediadores: Profa. Dra. Cecilia Almeida Salles e Prof. Dr. José Amalio de Branco

NOITE – 18:00 às 21:00

MESA 5 – CORPO E MÍDIA

•       Por trás da cena: as relações entre televisão e os espetáculosteatrais apresentados na cidade de São Paulo entre 1991 e 2012 - Beatriz Helena Ramsthaler Figueiredo
•       So you think you can dance? O discurso do corpo competente em
seriados televisivos contemporâneos - Joubert de Albuquerque Arrais
•       A natureza dos processos comunicacionais entre seres humanos e a
interface de game Kinectic nos aplicativos de dança: características eperspectivas - Valéria Cristiane Aprobato

Mediadores: Profa. Dra. Ana Claudia Mei Alves de Oliveira e Profa.
Dra. Lucrécia D’Alessio Ferrara

MESA 6 – ESPACIALIDADES E REDES
•       No rastro das presenças imaginárias - Eduardo Fernandes Araújo
•       Cartografias subversivas e mapas semiósicos: geopoéticas em mídias locativas - Juliana de Oliveira Rocha Franco
•       Dinâmicas comunicacionais nas redes sociais: Transformações e intercâmbios midiáticos - Mirian Aparecida Meliani Nunes

Mediadores: Profa. Dra. Ana Claudia Mei Alves de Oliveira e Profa.
Dra. Lucrécia D’Alessio Ferrara



CERTIFICADOS DE PARTICIPAÇÃO

Os Certificados (para apresentador de texto e ouvinte) serão expedidos
para participantes com presença em, pelo menos, quatro Mesas de
Trabalho.

COMITÊ CIENTÍFICO

Profa. Dra. Ana Claudia Mei Alves de Oliveira
Prof. Dr. Arlindo Machado
Profa. Dra. Helena Katz
Profa. Dra. Christine Greiner
Prof. Dr. José Luiz Aidar Prado



COMISSÃO ORGANIZADORA

Coordenação Geral do Seminário: Profa. Dra. Lucia Leão
Coordenação do Programa: Profs. Drs. Eugênio Trivinho e Lucrécia Ferrara

Comissão Especial de Assessoramento para Eventos Institucionais (CEA-Eventos):
Gilmar Pereira da Silva
Letícia Xavier de Lemos Capanema
Marc Barreto Bogo
Nádia Maria Lebedev Martinez Moreira
Regina Helena Giannotti
Silvio Anaz
Taísa Vieira Sena


sábado, 17 de novembro de 2012

Deixe-me ser uma imagem


Fiz essa montagem usando o quadro Payton Blue 2 (2009), do Gottfried Helnwein, adicionando uma frase inspirada na constatação feita por Petra Halkes em um texto sobre o quadro American Prayer (2000), de Helnwein. Achei uma frase muito bonita e que combina com a temática do artista vienense. Fez com que eu me lembrasse da palestra do pesquisador alemão Christoph Wulf, que assisti em 2011, na PUC-SP, sobre a qual comento nessa matéria publicada no site da Faculdade Cásper Líbero.

Na França, foram encontrados indícios de homens, mulheres e crianças que haviam sido enterradas deitadas sobre flores. “Eles cuidavam dos mortos, porque acreditavam no fim da vida terrena, mas com um começo da vida no além”, explica. Pensar num mundo além já comprova a morte como imagem imaginária tais como as imagens sacras, especialmente as que representam deus. No caso das representações da morte, usar o crânio de um homem morto (Totenkopf) monta o imagético fúnebre, como no caso de algumas culturas em que a imagem do morto é trazida de volta à comunidade como a ausência do falecido, mas presença da imagem. “É um corpo simbólico e imortal, re-socializado”.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Urso Morto

Acabei de conhecer esse projeto brasileiro chamado Urso Morto, apresentado por um colega do Twitter que dizia que lembrava o trabalho do Hermann Nitsch, o que é verdade em certo ponto (o uso dos esguichos de sangue, de vísceras em instalações etc), mas, sinceramente, na minha opinião, eu diria que isso aqui é ainda mais bonito... Talvez pelo fato da proximidade, mas a narrativa dele me tocou bem mais do que a do vienense. Bem, mas para vocês concordarem ou não, tenho que apresentá-lo.


Fabrício Bambratti é o artista plástico por trás do apelido Urso Morto. Sua fixação pela morte é o mote que dá ritmo ao seu trabalho abrangido em diferentes formatos e técnicas, superfícies e abordagens, mas sempre deixando um rastro de sangue que sabemos bem de onde vem e para onde vai: do Brasil ao Brasil. Em palestra no Festival do Centro Cultural São Paulo, em setembro deste ano, o artista comentou que, desde muito novo, já refletia sobre a morte, entendendo-a já como uma questão primordial da vida e como algo que as pessoas não sabem lidar muito bem.


Assim, sua curiosidade o encaminhou à área da psicanálise, a qual o ajudou a entender um pouco mais sobre o tema que, enfim, tornou-se emblemático em seu trabalho artístico. Mesmo sabendo que poderia ser rejeitado pelo público, procurou ajuda da família, de origem simples, que também nunca esteve de acordo com essa sua forma de expressão. "Eles acham tudo muito estranho, desconfiam que eu não sou normal. Meu avô era encanador da General Motors, meus pais nunca foram a uma Bienal ou exposição, não entendem meu trabalho e têm certeza de que eu nunca vou ganhar dinheiro com isso", comentou Urso, em texto escrito por Laís Prado.

O desafio, então, era maior. Além de precisar cativar o público, ele também deveria encontrar uma forma de convencer a família ou de fazê-la enxergar o significado da arte, principalmente a sua. "Em geral, o artista acaba ficando dentro de um ciclo restrito e não consegue atrair a atenção da maioria para um trabalho mais conceitual, sem atrativos estéticos. Então, resolvi fazer um filme mostrando elementos criados por mim e inseridos no ambiente simples da casa da minha família. Como eles continuam sem entender e gostar do meu trabalho, nunca assistiram ao vídeo, mas eu não desisto", confessa Urso.


Vídeo gravado em Juazeiro do Norte, no interior do Ceará. Segundo Urso, lá, longe de suas referências, ele finalmente encontrou gente que não tem contato nenhum com a arte padrão e, por isso, faz do seu jeito

Nessa mesma palestra que deu ao CCSP, Urso vestia uniforme de atendente do McDonald's, lugar onde trabalha(va) de madrugada. Ele ainda não consegue obter lucro com suas obras, tanto que as faz gratuitamente. "Para melhorar minha situação financeira, fui procurar um emprego e acabei conseguindo uma vaga no McDonald's, na loja da Henrique Schaumann. Infelizmente, observo que as pessoas lá não estão felizes com o que fazem, mas elas continuam no mesmo lugar porque o trabalho é uma forma de segurança. Mas acho que elas sentem o trabalho como uma maldição e não conseguem extrair felicidade dele. Isso não deixa de ser a morte de uma vida melhor", conclui.

Cleide Riva Campelo é responsável pela organização de um livro de Dietmar Kamper chamado "O Trabalho como Vida", publicado pela editora Annablume. Neste, vemos a reflexão sobre o trabalho ao longo da história e como ele se infiltra na vida humana, desfazendo os limites. Mais especificamente sobre trabalho e morte, há o artigo "O trabalho entre a vida e a morte", do Prof. Dr. Norval Baitello Jr.

O mais impactante, para mim, são justamente os vídeos. Esse que coloquei acima foi o que mais me marcou. Além de uma narração em off em tom macio e ao mesmo tempo frio, os efeitos visuais inseridos na gravação dão um aspecto de filme velho e queimado, de um meio termo entre o real e o etéreo, trazendo a cor ocre do sertão e aflorando as minhas reminiscências de histórias que se passam nesse cenário - por exemplo, o livro Vidas Secas, de Graciliano Ramos, onde a sombra da morte também circunda tão forte quanto na obra de Urso Morto. Mas, principalmente, o que mais enriquece essa peça audiovisual é o fato de ela não só ter valor estético como também trazer uma mensagem extremamente forte e sensível aos que conhecem a realidade brasileira, que é apresentada em rápidos vídeos esmaecidos, como trechos de reportagens. A teoria de Pedro sobre as sete mortes é uma poesia genuinamente nativa e suas representações gráficas são tão fortes quanto o reflexo desses motivos nos arredores da personagem.

"Brasil velho sem porteira"

Vendo essa imagem, essa montagem, é inevitável lembrar da canção interpretada por Zé Ramalho, Admirável Gado Novo. Fazendo menção ao livro Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, a música traz o tom distópico da obra literária à melodia que trata de um país que nada mais é do que, enfim, uma distopia, no fim das contas. Fora isso, a trilha sonora dos vídeos de Urso Morto são, justamente, canções brasileiras. Nada mais justo.

Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber...
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer...

E assim segue uma cultura que, enfim, pode não estar dando à arte a sua devida importância, como sugere Urso Morto e como eu também sugeriria. Pelo menos não a todos os tipos de arte, tendo em vista a vasta gama e diversidade de manifestações dentro do país. Todo mundo sabe que o Brasil não é só carnaval, funk carioca e futebol - mas também isso. Que o país e suas belezas ou mazelas podem ser apresentadas muito além do clichê do sertão ou da favela, que podem trazer uma narrativa mágica como a de Pedro ou como, por exemplo, o filme Abril Despedaçado, de Walter Salles.

Termino o post, então, deixando esse "flagra" gravado pelo próprio Urso Morto. Percebam bem a reação da mulher, proprietária da residência. Como ela vê o grafite e como ela reage diante da figura gravada em seu muro. Algo que me fez lembrar a reação de outrém diante da ação coletiva de grafiteiros no túnel da Avenida Paulista, em comemoração ao centenário japonês.



Urso Morto: 

REFERÊNCIAS

PRADO, Laís. Novo Festival do CCSP. Urso Morto veste uniforme do McDonald's em palestra. CCSP. 2012. Disponível em: <http://ccsp.com.br/ultimas/60228/Novo-Festival-do-CCSP>

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Tributo brasileiro a Death in June


Tributo à Morte em Junho é um projeto que reúne oito bandas brasileiras que resolveram homenagear o trabalho do inglês Douglas Pearce, de quem já falei aqui no blog e que também é mencionado em Kunst ist Krieg.

Death in June é uma banda do gênero neofolk conhecida por sua obra controversa e pelo posicionamento do líder, assumidamente gay. Isso se reflete imediatamente no nome dado ao projeto musical, que faz remitência à data em que Ernst Röhm, co-fundador das Sturmabteilung, foi assassinado - acredita-se que, entre outros motivos, por conta de sua sexualidade.

Nesse tributo, há uma grande variação na musicalidade, seja comparando as bandas entre si ou estas em relação ao projeto que homenageiam. É um álbum bastante interessante e que vale a pena ser conferido não apenas por ser um trabalho nacional, mas também por reunir algumas das melhores canções da Death in June, como Rose Clouds of HolocaustBut what ends when the symbols shatter?

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