Esse post é apenas para avisá-los de que agora há um verbete na Wikipedia em português sobre o Gottfried Helnwein. Sou eu quem está tomando conta do conteúdo que, por enquanto, ainda está em fase de construção, porém já dá pra ter uma idéia de quem é o artista. Espero que gostem. :)
sábado, 27 de julho de 2013
quarta-feira, 17 de julho de 2013
Música experimental no Brasil, música industrial no exterior
A Petrobrás junto à TV PUC, em 2003, lançou o documentário Alquimistas do Som sobre a música experimental no Brasil. Um gênero que passou um pouco despercebido diante do brilho cultural da vertente tropicalista, a música experimental possui uma sofisticação e uma conexão com a cena de outros países que vale a pena ser ressaltada aqui no blog, onde tratamos vez ou outra sobre a música industrial, por exemplo. A obra conta com depoimentos de Tom Zé, Egberto Gismonti, Carlos Rennó e Arrigo Barnabé, além do maestro Júlio Medaglia, Lenine e Arnaldo Antunes.
Logo nos primeiros minutos do documentário, Tom Zé aparece comentando sobre a performance Música e Músicas, de 1978, no qual a banda utiliza uma espécie de sampleamento de gravações de rádio para compôr uma canção múltipla que, aos poucos, vai se complementando com a presença de enceradeiras, serrotes, rádios a pilha e outras ferramentas do cotidiano que se misturam a violões e vocais repetitivos ou que cantam jingles de publicidade. Música dadaísta, música ferramental, música da fábrica, industrial. Essa performance me chamou muito a atenção porque me lembrou imediatamente o começo do filme Halber Mensch, filmado por Sogo Ishii, em 1986, isto é, 8 anos depois com a banda alemã de música industrial Einstürzende Neubauten.
Logo nos primeiros minutos do documentário, Tom Zé aparece comentando sobre a performance Música e Músicas, de 1978, no qual a banda utiliza uma espécie de sampleamento de gravações de rádio para compôr uma canção múltipla que, aos poucos, vai se complementando com a presença de enceradeiras, serrotes, rádios a pilha e outras ferramentas do cotidiano que se misturam a violões e vocais repetitivos ou que cantam jingles de publicidade. Música dadaísta, música ferramental, música da fábrica, industrial. Essa performance me chamou muito a atenção porque me lembrou imediatamente o começo do filme Halber Mensch, filmado por Sogo Ishii, em 1986, isto é, 8 anos depois com a banda alemã de música industrial Einstürzende Neubauten.
À direita, "Alquimistas do Som" (00:01:28). À esquerda, "Halber Mensch" (05:38). O primeiro usa uma enceradeira, o segundo usa uma lixa contra uma placa de metal
Alquimistas do Som (00:01:49) usando serrotes contra uma superfície metálica. Halber Mensch (05:12) usando um bastão de metal contra um carrinho de supermercado
Alquimistas do Som (00:01:51), instrumentos musicais + instrumentos de solda. Halber Mensch (05:57) uso do martelo contra superfície metálica em substituição de baquetas e tambor
É claro que o estilo do Einstürzende Neubauten é bem diferente, mas a estética da performance e as referências feitas ao cenário industrial, a crítica à mídia e a colagem dadaísta são características da música experimental brasileira que entram em congruência com a música industrial que acontecia lá fora. Mesmo porque isso foi em épocas próximas, levando em conta que a música industrial começou com bandas como Throbbing Gristle, Cabaret Voltaire e Einstürzende Neubauten justamente no fim dos anos 70.
Fica aí a sugestão.
terça-feira, 16 de julho de 2013
Fascínio pelo mal, em Jung
Em 1945, Jung escreveu isso sobre a culpa coletiva sentida pelos alemães e pelos europeus por conta dos crimes cometidos pelo nazismo e durante a Segunda Guerra Mundial:
"A sensação que todo crime provoca, o interesse apaixonado pela perseguição e julgamento do criminoso, etc., demonstram que praticamente todo mundo, desde que não seja insensível ou apático de forma anormal, é excitado pelo crime. Todos vibram conjuntamente, todos se sentem dentro do crime, tentam compreendê-lo e esclarecê-lo... Algo se acende, o fogo do mal que flameja no crime. Platão já sabia que a visão do feio provoca o feio na alma. A indignação e a exigência de punição se levantam contra o assassino e isso tanto mais violenta, apaixonada e odiosamente quanto mais ferver a chispa do mal dentro da própria alma. É um fato inegável que o mal alheio rapidamente se transforma no próprio mal, na medida em que acende o mal da própria alma. O assassinato acontece, em parte, dentro de cada um e todos, em parte, o cometeram. Seduzidos pela fascinação irresistível do mal, todos nós possibilitamos, em parte, a matança coletiva em nossas mentes e na razão direta de nossa proximidade e percepção. Com isso, estamos irremediavelmente imiscuídos na impureza do mal, qualquer que seja o uso que dele fizermos. Nossa indignação moral cresce em virulência e desejo de vingança quanto mais forte arder em nós a chama do mal. Disso ninguém pode escapar, pois somos todos humanos e pertencemos igualmente à comunidade dos homens. Assim, todo crime desencadeia num recanto de nossa mente múltipla e variada uma satisfação secreta que, por sua vez, em caso de disposição moral favorável, produz uma reação oposta nos compartimentos vizinhos. Disposições morais fortes, porém, são infelizmente raras. Quando os crimes aumentam, a indignação predomina e o mal se converte em moda. De santo, louco e criminoso todos temos 'estatisticamente' um pouco. Graças a essa condição humana universal existe, em todas as partes, uma sugestibilidade correspondente ou propensão. A nossa época, isto é, os últimos cinquenta anos, preparou o caminho para o crime. Será que, por exemplo, o grande interesse pelos romances policiais não nos parece suspeito?"
(Carl G. Jung, Depois da catástrofe, 1945)
terça-feira, 2 de julho de 2013
Fotos coloridas do Terceiro Reich são encontradas em arquivos da Life
Artigo publicado na Motherboard
O partido de Hitler é conhecido pelo grande uso de simbolismos em suas campanhas. Hoje, a utilização de bandeiras enormes, águias gigantes e públicos massivos e alinhados tem merecidamente deixado uma impressão sinistra e tem sido efetivamente copiada em ficções que emulam estados totalitaristas brutais. Ainda que muitos de nós saibamos quão poderosas a propaganda e a máquina imagética de Hitler foram, vê-las em cores nessa maravilhosa série fotográfica da revista Life é como um soco no estômago.
Recentemente, a revista Life tem resgatado de seus arquivos ótimas fotografias antigas e que, às vezes, sequer haviam sido vistas. (O tributo ao fotógrafo de guerra Larry Burrows é particularmente poderoso). Mas a Life se superou com a série de Hugo Jaeger, que foi um dos fotógrafos pessoais de Hitler.
Ver cidades inteiras adornadas por bandeiras com a suástica é assustador. Mas vê-las em cores é ver quão chocantes são essas bandeiras vermelhas, no cenário. É como uma maré vermelha inundando cada canto de uma cidade.
É óbvio que essa era a impressão que Hitler e sua máquina de propaganda queriam; que o partido nazista era uma força imparável e a única opção era se juntar a ele.
O poder de Hitler tem parte de sua origem no simples culto das estéticas com as quais ele compactuou. Ao se deparar com tal incrível e eficiente máquina, a qual parecia pintar tudo de vermelho, por onde quer que passasse, era difícil alguém divergir. E conforme Hitler foi ganhando poder, isso ficou cada vez mais forte.
Mas imagens sozinhas, ainda que poderosas, não podem sustentar um movimento político sozinhas. Enquanto o partido nazista fazia sucesso essencialmente por dizer "Veja, todos estão conosco, junte-se a nós ou será deixado para trás (ou assassinado)", isso não era 100% bem sucedido. Dissidentes, tanto nacional quanto internacionalmente, continuaram existindo. Enquanto Hitler retratava seu "Reich de Mil Anos" como invencível e abrangente, ao mesmo tempo em que cometia indizíveis atrocidades durante seu reinado, os Aliados mantiveram esse legado por apenas dez anos.
Tal grosseira simplificação é uma parte básica de qualquer livro de história do século XX, mas as fotos em preto e branco às quais nós estamos acostumados a acompanhar simplesmente não retratam a cena nem perto daquilo que elas parecem, em cores. Apesar do tema, as fotos de Jaeger são tecnicamente impressionantes. O filme 35mm Kodachrome foi lançado em 1936 e foi apenas depois disso que a fotografia em cores foi lentamente chegando às mãos dos profissionais.
É até mesmo um exemplo incrível de como desenvolvimentos técnicos podem ser incríveis, mesmo no campo das artes; poucos anos depois do advento comercial e tecnológico da filmagem em cores, ela passou a ser usada para criar imagens que evocassem ainda mais emoções do que as fotografias em preto e branco, assim como é até hoje. Nesse sentido, as habilidades de Jaeger com a nova mídia é notável se nos basearmos em seu portfolio, apesar de este ter sido infelizmente e em boa parte utilizado para documentar a vida do mais notório vilão da história. Mas isso é o que é mais fascinante dessas fotos, especialmente do ponto de vista da inovação. Eu duvido que químicos especialistas em filmes fotográficos que adivinharam como replicar cores esperaram que elas seriam para propaganda tão rapidamente.
Mas tão chocante quanto sejam essas imagens são em cortes, é importante lembrar que enquanto a máquina de propaganda hitlerista era poderosa, ela não era suficiente. Assim como o editor da Life.com Ben Cosgrove escreve em seu artigo que acompanha as fotografias, o qual você deve ler, "nunca é demais lembrar é preciso mais do que emblemas - não importa quão autoritários eles possam ser, ou quão transcendentais eles podem parecer - para transformar um movimento em uma força política, social e militar estável.
E essa é a verdade. Há um motivo pelo qual o partido nazista usou tão fortemente os simbolismos que têm sido objeto de caricaturas em filmes como 1984 e Death Race 2000: não é algo simples e politicamente unidimensional, mas também historicamente. O conceito de cobrir todo metro quadrado de espaço público com bandeiras representando o Partido, qualquer que este seja, é um truque antigo, e um dos quais nós quase automaticamente associamos a governos totalitaristas.
É porque pensamento livre requere estética livre, se empurrarem despoticamente imagens em sua face, isso irá trapacear a sua mente, e alguns irão sempre contrariar. Se olhar as fotos digitalizadas de algo maligno morto 80 anos atrás, em sua tela, fez suas batidas cardíacas aumentarem, então você entende totalmente.
O partido de Hitler é conhecido pelo grande uso de simbolismos em suas campanhas. Hoje, a utilização de bandeiras enormes, águias gigantes e públicos massivos e alinhados tem merecidamente deixado uma impressão sinistra e tem sido efetivamente copiada em ficções que emulam estados totalitaristas brutais. Ainda que muitos de nós saibamos quão poderosas a propaganda e a máquina imagética de Hitler foram, vê-las em cores nessa maravilhosa série fotográfica da revista Life é como um soco no estômago.
Recentemente, a revista Life tem resgatado de seus arquivos ótimas fotografias antigas e que, às vezes, sequer haviam sido vistas. (O tributo ao fotógrafo de guerra Larry Burrows é particularmente poderoso). Mas a Life se superou com a série de Hugo Jaeger, que foi um dos fotógrafos pessoais de Hitler.
Ver cidades inteiras adornadas por bandeiras com a suástica é assustador. Mas vê-las em cores é ver quão chocantes são essas bandeiras vermelhas, no cenário. É como uma maré vermelha inundando cada canto de uma cidade.
É óbvio que essa era a impressão que Hitler e sua máquina de propaganda queriam; que o partido nazista era uma força imparável e a única opção era se juntar a ele.
O poder de Hitler tem parte de sua origem no simples culto das estéticas com as quais ele compactuou. Ao se deparar com tal incrível e eficiente máquina, a qual parecia pintar tudo de vermelho, por onde quer que passasse, era difícil alguém divergir. E conforme Hitler foi ganhando poder, isso ficou cada vez mais forte.
Mas imagens sozinhas, ainda que poderosas, não podem sustentar um movimento político sozinhas. Enquanto o partido nazista fazia sucesso essencialmente por dizer "Veja, todos estão conosco, junte-se a nós ou será deixado para trás (ou assassinado)", isso não era 100% bem sucedido. Dissidentes, tanto nacional quanto internacionalmente, continuaram existindo. Enquanto Hitler retratava seu "Reich de Mil Anos" como invencível e abrangente, ao mesmo tempo em que cometia indizíveis atrocidades durante seu reinado, os Aliados mantiveram esse legado por apenas dez anos.
Tal grosseira simplificação é uma parte básica de qualquer livro de história do século XX, mas as fotos em preto e branco às quais nós estamos acostumados a acompanhar simplesmente não retratam a cena nem perto daquilo que elas parecem, em cores. Apesar do tema, as fotos de Jaeger são tecnicamente impressionantes. O filme 35mm Kodachrome foi lançado em 1936 e foi apenas depois disso que a fotografia em cores foi lentamente chegando às mãos dos profissionais.
É até mesmo um exemplo incrível de como desenvolvimentos técnicos podem ser incríveis, mesmo no campo das artes; poucos anos depois do advento comercial e tecnológico da filmagem em cores, ela passou a ser usada para criar imagens que evocassem ainda mais emoções do que as fotografias em preto e branco, assim como é até hoje. Nesse sentido, as habilidades de Jaeger com a nova mídia é notável se nos basearmos em seu portfolio, apesar de este ter sido infelizmente e em boa parte utilizado para documentar a vida do mais notório vilão da história. Mas isso é o que é mais fascinante dessas fotos, especialmente do ponto de vista da inovação. Eu duvido que químicos especialistas em filmes fotográficos que adivinharam como replicar cores esperaram que elas seriam para propaganda tão rapidamente.
Mas tão chocante quanto sejam essas imagens são em cortes, é importante lembrar que enquanto a máquina de propaganda hitlerista era poderosa, ela não era suficiente. Assim como o editor da Life.com Ben Cosgrove escreve em seu artigo que acompanha as fotografias, o qual você deve ler, "nunca é demais lembrar é preciso mais do que emblemas - não importa quão autoritários eles possam ser, ou quão transcendentais eles podem parecer - para transformar um movimento em uma força política, social e militar estável.
E essa é a verdade. Há um motivo pelo qual o partido nazista usou tão fortemente os simbolismos que têm sido objeto de caricaturas em filmes como 1984 e Death Race 2000: não é algo simples e politicamente unidimensional, mas também historicamente. O conceito de cobrir todo metro quadrado de espaço público com bandeiras representando o Partido, qualquer que este seja, é um truque antigo, e um dos quais nós quase automaticamente associamos a governos totalitaristas.
É porque pensamento livre requere estética livre, se empurrarem despoticamente imagens em sua face, isso irá trapacear a sua mente, e alguns irão sempre contrariar. Se olhar as fotos digitalizadas de algo maligno morto 80 anos atrás, em sua tela, fez suas batidas cardíacas aumentarem, então você entende totalmente.
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