domingo, 5 de maio de 2013

TRANSfiGURATION, de Olivier De Sagazan, e Der Untermensch, de Gottfried Helnwein



A performance TRANSfiGURATION do artista Olivier De Sagazan tem como proposta pensar sobre identidade - não aquela cultural ou nacional, mas quem somos nós? Usando algo como argila para montar seus novos rostos de aspecto monstruoso, o performer ainda colore as novas faces com tinta preta e vermelha, que são tons que bem traduzem a violência e a aflição de seus gestos e murmuros.

TRANSfiGURATION faz parte do filme Samsara (2011), de Ron Fricke, o qual contou com a produção de Mark Magidson, que também colaborou com o filme Baraka (1992). Filmado durante cinco anos, em 25 países, o longa continua os assuntos desenvolvidos em Baraka (1992) e Chronos (1985) ao explorar as maravilhas do nosso mundo, sejam estas parte do âmbito mundano ou místico, sempre tendo em vista a jornada espiritual do ser humano e as experiências vivenciadas por estes, durante esse processo. Trata-se de um filme de certa forma documental, mas que se preocupa mais em propôr uma meditação aos seus espectadores.

E a performance do francês, isoladamente, também não deixa de fazer esse convite. Ao vestir (ou mostrar) suas diversas faces (personas), Olivier quer que a audiência saia da sua zona de conforto e olhe para dentro de si, desde suas partes mais claras às mais obscuras e incômodas. Com isso poderíamos pensar no processo de individuação ou mesmo o encontro (e confronto) com a nossa sombra, um primeiro passo antes de nos aventurarmos com nossa anima.

"Se o confronto com a sombra é obra do aprendiz, o confronto com a anima é a obra-prima. A relação com a anima é outro teste de coragem, uma prova de fogo para as forças espirituais e morais do homem. Jamais devemos esquecer que, em se tratando da anima, estamos lidando com realidades psíquicas, as quais até então nunca foram apropriadas pelo homem, uma vez que se mantinham fora de seu âmbito psíquico, sob a forma de projeções" 
JUNG (2000, p.39).

Esse vídeo me chamou ainda mais atenção porque me lembrou os auto-retratos de Gottfried Helnwein, reunidos na série Der Untermensch (1970-1987). Nela o artista retoma aquilo que fazia no início de sua carreira artística: saía pelas ruas de Viena usando bandagens e sangue no rosto, desfigurando-se tais como os fetos deformados que fotografara na série Sleeping Angels e como demais personagens que aparecem em sua obra. O artista se torna um subhumano - um subproduto do inconsciente, um subproduto das relações humanas, a subconsciência.

The Debut (1987) - Gottfried Helnwein

"Como uma pessoa tão amigável como Helnwein consegue tornar essas - excelentes - pinturas em um espelho dos horrores deste século? Ou é isso que ele não consegue deixar de fazer? Seu espelho apenas reflete as atitudes do século? TERROR SEM FIM É MELHOR QUE UM FIM EM TERROR. Acontece de quando em quando - estimativa de morte, uma consequência das 'estastísticas' tornando-a um tabu. Perseu guilhotina a Górgona no espelho -, e quando a cabeça cai, é a sua própria. Quantas cabeças uma pessoa/homem pode ter na nossa era de espelhos?"
Müller (1988)

Referências

JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Petrópolis: Editora Vozes, 2000
MÜLLER, Henry. Black Mirror. 1988. Disponível em: <http://italia.helnwein.com/texte/selected_authors/artikel_117.html>

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