domingo, 26 de janeiro de 2014

Obra de Helnwein exposta no CCBB-SP

Kindskopf no CCBB em São Paulo. Foto de Gustavo Oliveira Machado e Eric Danilo

Acabei de ficar sabendo que duas obras de Gottfried Helnwein estão disponíveis na mostra Visões na exposição Ludwig no Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo. Uma delas é o painel de seis metros de altura Kindskopf, mas também há o retrato hiperrealista de Rosa Luxemburg feita por Helnwein, da série 48 Portraits, como vi no Instagram de uma das pessoas que foi conferir a exposição.

Na realidade, essa exposição traz a coleção Ludwig, parte do acervo do Museu Estatal Russo de São Petersburgo, que é um dos museus que tem várias obras do Helnwein. Então não sei dizer se são só essas que eles trouxeram para o Brasil - infelizmente tem sido pouco noticiado, por enquanto, e tem chamado a atenção por conta do tamanho da obra Kindskopf (1991) e para quem conhecer as mulheres retratadas na série 48 Portraits. Mas diante dos demais selecionados, que são Pablo Picasso, Andy Warhol, Robert Rauschenberg, Roy Lichtenstein, Jeff Koons, Jean-Michel Basquiat, Joseph Beuys (que inclusive foi homenageado por Helnwein), Anselm Kiefer, George Baselitz e outros, talvez Helnwein passe despercebido. Não estão nem colocando nas notícias que os 48 Portraits faz parte da mostra, por isso até me surpreende terem postado no Instagram o retrato da Rosa. Mas vale a pena fazer a contextualização...




A série 48 Portraits é uma resposta à série homônima de Gerhard Richter, que em 1971/72 fotografou 48 homens de grande relevância. Em contraponto, Helnwein fotografou 48 mulheres e depois as pintou em estilo hiperrealista e em tons de vermelho. Além de Rosa, foram também pintados os retratos de Hannah Arendt, Marie Curie, Marilyn Monroe, Anne Frank, Frida Kahlo, Virgina Woolf, entre outras que vocês podem conferir neste link, junto com os respectivos homens fotografados por Richter.

Kindskopf (1991), que tem sido traduzida por aí como "Cabeça de Menina", mas literalmente seria Cabeça de Criança, é uma pintura hiperrealista feita numa tela medindo 6 metros de altura por 4 de largura, usando tinta a óleo e acrílica.

Helnwein e seus filhos Amadeus e Mercedes, durante a pintura da tela, em 1991

Obra exposta no Museu Estatal Russo de São Petersburgo

A exposição tem curadoria de Evgenia Petova, Joseph Kiblitsky e Ania Rodríguez e estará disponível ao público do dia 25 de janeiro a 21 de abril. Com certeza tentarei visitar o CCBB e trazer mais informações sobre quais obras estão lá, no fim das contas. Não deixem de visitar! :)

domingo, 12 de janeiro de 2014

Helnwein e o poder da imagem

Peinlich (Embarrassing), 1971, aquarela, lápis de cor, lápis e tinta em papel 35 cm x 60 cm


 Nos anos 1970, eu fiz uma exposição na Vienna Pressehaus. Por conta dela, ocorreu uma comoção, um tumulto - os funcionários protestaram. Depois de três dias, a exposição foi fechada. Ouvi que ocorreu uma disputa entre os funcionários e a gestão que gerou a ameaça de uma greve caso as obras não fossem removidas. Eu falei com um editor de um jornal conservador, que estava muito perturbado e insistiu em falar comigo. Ele disse: "Por que você faz essas pinturas horríveis? Você deve ser maluco. Elas ficam na minha cabeça, não consigo dormir mais". Eu perguntei a ele se ele havia lutado na Guerra, e ele confirmou. Perguntei: "Você viu pessoas morrerem?". Ele disse: "É claro". "E você pôde dormir?". "Certamente", ele disse. "Era a guerra". Eu perguntei se ele havia matado pessoas. "Talvez", ele disse. "E isso tirou o seu sono?", eu perguntei. "Não". Então eu disse: "Mas certamente você sempre verá em seu escritório fotografias que são também terríveis de publicar?". "É verdade", ele respondeu. Eu perguntei se ele perdeu o sono por isso. "Não. Isso é a realidade". Então eu entendi. Disse a ele: "Não é estranho que minhas pinturas, nada mais que papel cartão com alguns miligramas de pintura, um pouco de goma de árvore para a liga, nada mais, pura ficção, possam tirar o seu sono? Que você não possa esquecê-las?". E nesse momento eu entendi que não era a minha obra que fazia as pessoas incomodadas e tristes. Eram as próprias imagens dentro de suas cabeças. Eu entendi que minhas pinturas aparentemente desencadeavam algo em seu subconsciente. Mas as imagens carregadas em suas mentes causavam o transtorno.¹
Gottfried Helnwein (Silence of Innocence, Claudia Schmid)



¹In the early 70s I had an exhibition in the Vienna Pressehaus. Caused by the exhibition, riotous commotion occurred - the employees protested. After three days the exhibition was closed. I heard that the dispute between the staff and management had let to the trade union threatening to put on a strike to remove the works. I spoke to an editor of a conservative newspaper, who was very upset and insisted to talk to me. He said: "Why do you make these horrible pictures? You must be crazy. They stay in my mind, I can't sleep anymore". I asked him, if he'd been fought in the last War, which he confirmed. I asked: "Have you seen people die?". He said: "Of course". "And could you sleep?". "Sure", he said. "It was war". I asked if he'd killed people. "Maybe", he said. "Does that rob you of your sleep?", I asked. "No". Then I said: "But surely you will often get to see photos in your newsroom, which are too terrible to print?". "True", he replied. I asked if he lost sleep over it. "No. That's reality". Then I understood. I said to him: "Isn't it strange that my paintings, nothing more than cardboard with a few milligrams of paint on it, a bit of tree gum for bonding, no more, pure figments, that they can rob you of your sleep? That you can't forget them?". At this moment I realized that it was not my work, which got people worried and upset. It was their own images inside their heads. I understood that my pictures apparently triggered something in their subconsciousness. But the images they carried in their own minds caused the upset.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Sobre o artigo "Fundamento da banalidade do mal"

Saiu na revista Filosofia, ciência e vida, ano VII nº 89, dezembro 2013, o artigo Fundamento da banalidade do mal, escrito por Flávio R. Vassoler, professor universitário, doutorando em teoria literária da USP. Infelizmente o material não está disponível no site da publicação que, para variar, chegou atrasada em casa e, por esse motivo, somado às pautas que sempre são sobre Nietzsche, Foucault, Marx, consumismo, feriado do mês e Confúcio, eu estou imediatamente cancelando minha assinatura - mas isso não vem ao caso... foi só um desabafo mesmo.


O assunto do post é que acabei de ler o artigo em questão, que foi um dos poucos que me chamou a atenção nessa revista, que antes era bastante interessante, principalmente por causa dos textos sobre filosofia da tecnologia, do colunista João de Fernandes Teixeira. Exatamente porque foca na obra Eichmann em Jerusalém, de Hannah Arendt, que é sempre muito usada para tratar sobre o tema da violência, banalidade do mal, porém o texto situa num contexto específico, que é o período nazista, portanto é necessário devido cuidado. Além desta autora, Theodor Adorno e Max Horkheimer são referências, junto de Wilhelm Reich que, no entanto, não aparece no texto, apenas na bibliografia.

O autor inicia o artigo com uma descrição quase épica, se não fosse violenta ou trágica demais, para retratar a cena que, no início da segunda coluna revela ser uma partida de paintball travada por um adolescente de 15 anos que exclama, em seguida, a seguinte constatação: "Demais, demais! Só não é mais real que o videogame! Lá a gente demora mais para morrer; lá também é mais fácil de matar...". Logo depois, o autor narra o caso do ciclista que foi atropelado na avenida Paulista e teve o braço decepado, mas com não menos dramatização que o fato anterior, tratando de saturar os tons do quadro em que o motorista leva o braço consigo e o joga no Rio Tietê.

Não suficiente, um novo crime brasileiro é mencionado, abrindo um novo "olho" não menos discreto, com direito a ponto de interrogação e exclamação: "FAÇA O QUE TEM QUE SER FEITO?!". O autor compara o caso do massacre do Carandiru ou mais especificamente o julgamento do coronel Ubiratan Guimarães à situação analisada por Arendt, chegando a fazer o seguinte convite:
"Que diria Hannah Arendt (1906-1975) se entrasse em contato com o fascismo à brasileira? A filósofa provavelmente descobriria quem são os símiles dos judeus por aqui. Os elementos do povo escolhido - e escorraçado. A escória que São Paulo varre para a cracolândia e para debaixo de seus viadutos. O que diria Hannah Arendt se, décadas após o julgamento do nazista Adolf Eichmann em Jerusalém, a filósofa fosse convidada para analisar o julgamento de Ubiratan Guimarães? Arendt estaria diante do coronel da Polícia Militar que, em 1992, após receber ordens do então governador de São Paulo, comandou a invasão, pela Tropa de Choque, do presídio do Carandiru para conter uma rebelião dos presos, invasão cujo saldo líquido foi a erradicação - usemos o vocabulário asséptico da administração pública - de 111 detentos. Assim como Adolf Eichmann, o burocrata nazista responsável pela logística de transporte - ou pior, evacuação - dos judeus para os campos de concentração, Ubiratan Guimarães pôde alegar que apenas cumpriu ordens. E mais: anos após o julgamento, o coronel Ubiratan Guimarães foi candidato a deputado estadual com a bandeira 14.111 e recebeu uma expressiva votação para assumir seu novo posto na Assembleia Legislativa".
Já em 2012, eu havia feito uma postagem aqui no blog sobre um conceito ou termo conhecido como Lei de Godwin, isto é, apesar de isso originalmente ter nascido na internet e em discussões de internet, não deixa de ser algo que acontece em nível social, ou seja, entre as pessoas - filosoficamente. Se existe a banalidade do mal, existe ainda mais a banalidade das comparações do mal ao nazismo. Independentemente do quão terrível foi o massacre do Carandiru, ele foi o massacre do Carandiru e não o nazismo... são coisas diferentes! Infelizmente a palavra "nazismo" se tornou uma palavra-chave que se encaixa em qualquer coisa mesmo - senão não viriamos tantos programas absurdos na grade do History Channel, por exemplo... e também, infelizmente, é muito fácil chamar qualquer coisa de fascista, nazista pelo simples impacto da palavra - daí a Lei de Godwin.

Por isso, o artigo vai se seguindo num discurso de muitas emoções fortes, de revolta contra esse mal, essa banalidade do mal. Eichmann em Jerusalém é um ótimo livro, mas ele não resolve a questão, ele apenas o relata, ao meu ver. Vassoler tenta resolver, em Fundamento da banalidade do mal dizendo que "Narciso gosta de se mutilar", caindo na lógica do mondo cane, capitalismo selvagem, competição, civilização e barbárie. É um pensamento bastante econômico e acaba caindo na Dialética do esclarescimento, no qual há os conceitos de "senhor" e "escravo", que Vassoler encontra como extremados nos campos de concentração novamente.

E o texto termina com mais uma narrativa emocionada sobre quão terríveis e maquiavélicos foram os nazistas e o pensamento nazista, mas não conseguimos chegar a lugar nenhum sobre por qual motivo, enfim, "Somos capazes de cometer inimagináveis atrocidades sem qualquer motivação maligna", assim como convida a chamada do sumário".

É por isso que eu prezo, ao estudar o nazismo e o mal, por uma aproximação ao âmago do ser humano - isto é, à psicologia, mitologia e filosofia, mas claro que também a história. Algumas pessoas acham isso nada convencional, no caso das duas primeiras opções, só que nesse caso, para mim é mais do que óbvio que precisamos estudar a psique humana para entender por que razão as pessoas agem dessa maneira, violentamente. Mesmo porque, no meu caso, eu não estou estudando exatamente o nazismo como fato histórico, mas o uso dele como metáfora... ao menos agora, na minha dissertação.

E pra quem acompanha o blog, minhas pesquisas, meus textos, está mais do que claro que está na nossa parte escura, no nosso inconsciente, na nossa sombra.

Não vou repetir tudo, já que o post ficou longo, então basta acessar as postagens antigas:

Carl G. Jung – O problema do mal no nosso tempo
Fascínio pelo mal, em Jung
Os discursos de Hitler e a culpa coletiva
Marie-Louise von Franz sobre o problema do mal

Caso o autor do artigo venha a encontrar esse post, não entenda como uma crítica, apenas uma resenha e um convite a conhecer essa outra abordagem do tema.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Celebridades: a diferença entre fama e grandeza

Esse é um post meio diferente aqui no blog, um espaço em que eu normalmente falo sobre arte, filosofia e cultura. Mas recentemente eu comprei na Amazon a versão digital do livro The Image: A Guide to Pseudo-Events in America de Daniel Boorstin, no qual ele analisa a cultura pop americana, basicamente. Comprei tanto para a minha dissertação quanto para, mais tarde, quando tiver um tempinho livre, conseguir fazer uma análise do vídeo promocional que a Lana Del Rey lançou no ano passado, o Tropico, porque achei que tinha muito a ver justamente com os temas que estou estudando atualmente no mestrado - por mais incrível que possa parecer, para quem está de fora.


Eu publiquei uma "palhinha" no meu Facebook, mas nesse curta que a cantora americana fez, ela coloca artista de cultura pop americana como se fossem deidades, inclusive pondo-os no mesmo patamar de Jesus - Elvis, Marilyn Monroe e John Wayne aparecem juntos de Cristo no início da obra, que se inicia com a música Body Electric, na qual o primeiro verso, Lana canta "Elvis is my daddy, Marilyn's my mother, Jesus is my bestest friend" enquanto os personagens estão num cenário que emula o Éden/Paraíso do qual eles são expulsos para, finalmente, viverem nos Estados Unidos, em Los Angeles - uma cidade que, enfim, significa "Os Anjos". Mas vou deixar isso para outro post... mesmo porque, nesse livro do Boorstin, há passagens bem interessantes em que ele relaciona celebridades e heróis, inclusive mencionando o personagem Hércules, que no fim das contas, é uma figura mitológica que é um semi-deus, filho de Deus, assim como Jesus. Enfim, deixo para outra postagem.

Aqui eu gostaria de reunir algumas citações que achei interessantes, porque eu havia ouvido na faculdade, numa das aulas de teoria da comunicação que celebridade é aquela pessoa que é famosa simplesmente por ser famosa. Em tempos de início de um novo reality show, parece ser um bom timing para falar sobre isso, mas meu propósito nem é falar sobre essas pessoas necessariamente, apesar de Boorstin talvez se dedicar mais a esse tipo de fenômeno "relâmpago".

Shakespeare, em linhas familiares, dividiu grandes homens em três classes: os que nasciam grandiosos, os que conquistavam a grandeza e aqueles que a grandeza lhes era introduzida. Nunca ocorreu a ele mencionar aqueles que contratavam experts em relações públicas e assessores de imprensa para fazê-los parecerem grandiosos (posição 740).

Obviamente, nunca houve um tempo em que "fama" era a mesma coisa que "grandeza". Mas até muito recentemente, pessoas famosas estavam quase nesse mesmo grupo (posição 746).

No último século, e especialmente desde 1900, parece que estamos descobrindo processos nos quais a fama é manufaturada. (...) A Revolução Gráfica, de repente, deu-nos, entre outras coisas, os meios de fábricar o renome. Ao descobrimos que nós (os que assistem tv, vão ao cinema, ouvem rádio, lêem jornais e revistas) e nossos serviçais (a televisão, o cinema, os produtores de rádio, os editores de jornal e revista, e publicitários) podem tão rápida e efeticamente dar a um homem "fama" (posição 763). 

Novamente confundindo nossa capacidade com nossa necessidade, temos preenchido o mundo com fama artificial. (...) Tendo manufaturado nossas celebridades, tendo, quer queiramos ou não, feito deles nossa Ursa Menor - a estrela-guia de nosso interesse - nós estamos tentados a acreditar que eles não são sintéticos de maneira alguma, que eles são ainda, de alguma maneira, heróis divinos que agora abundam com uma maravilhosa prodigalidade moderna (posição 769).

Nós podemos fabricar fama, podemos quando quisermos (apesar de normalmente ter um custo considerável) fazer um homem ou uma mulher bem conhecidos; mas nós não podemos fazê-los grandiosos. Nós podermos fazer uma celebridade, mas nós não podermos fazer um herói (posição 784). 

Celebridade é uma pessoa que é conhecida por ser bem conhecida.

Suas qualidades - ou melhor, sua falta de qualidade - ilustram nossos problemas peculiares. (...) Ele é um pseudo-evento humano. Ele tem sido fabricado no propósito de satisfazer nossas expectativas exageradas de grandeza humana. Ele é moralmente neutro. O produto de nenhuma conspiração, de nenhum grupo promovendo vício ou vazio, ele é feito por homens honestos, zelosos e de ética altamente profissional, que fazem seu trabalho, "informando" e educando-nos. Ele é feito por todos nós que, de bom grado, lemos sobre ele, que gostamos de vê-lo na televisão, que compramos as gravações de sua voz e que falamos sobre ele para nossos amigos. Suas relações com a moralidade e mesmo com a realidade são altamente ambíguas (posição 927).

Celebridades populam nosso horizonte com homens e mulheres que nós já conhecemos. Ou, como uma propaganda da Celebrity Register coeremente coloca, celebridades são "os 'nomes' que, uma vez ditos pelas notícias, agora fazem as notícias por eles mesmos". A celebridade é feita pela simples familiaridade, induzida e reenforçada pelos meios públicos. A celebridade, portanto, é a pefeita personificação da tautologia: a mais familiar é o mais familiar (posição 982).

BOORSTIN, Daniel J. The Image. A Guide to Pseudo-Events in America. Nova Iorque: Vintage Books, 1992. Versão E-book.

E com isso eu encerro esse post lembrando de uma conversa que eu tive com Bruce Sterling, escritor de americano de ficção científica, com o qual eu chorei minhas pitangas reclamando de como eu acho um saco ficar fazendo publicidade de si mesmo e de como tem coisa (ou gente) que faz sucesso, mas é um lixo (daí a relação, ou diferença, entre fama e grandeza)... e foi aí que, num outro dia, ele me deu um autógrafo com essas seguintes palavras:

"Showing up is 90% of everything"

Mas... para darmos um curto-circuito... ficamos novamente com Boorstin:




Shakespeare, in the familiar lines, divided great men into three classes: those born great, those who achieved greatness, and those who had greatness thrust upon them. It never ocurred to him to mention those who hired public relations experts and press secretaries to make themselves look great (posição 740).
Of course, there never was a time when "fame" was precisely the same thing as "greatness". But, until very recently, famous men and great men were pretty nearly the same group (posição 746).
Within the last century, and especially since about 1900, we seem to have discovered the processes by which fame is manufatured. (...) The Graphic Revolution suddenly gave us, among other things, the means of fabricating well-knownness. Discovering that we (television watchers, the movie goers, radio listeners, and newspaper and magazine readers) and our servants (the television, movie, and radio producers, newspaper and magazine editors, and ad writers) can so quickly and so effectively give a man "fame" (posição 763).  
We can fabricate fame, we can at will (though usually at considerable expense) make a man or woman well known; but we cannot make him great. We can make a celebrity, but we can never make a hero (posição 784).  
The celebrity is a person who is known for his well-knownness.
His qualities - or rather his lack of qualities - illustrate our peculiar problems. (...) He is the human-pseudo event. He has been fabricated on purpouse to satisfy our exagerrated expectations of human greatness. He is morally neutral. The product of no conspiracy, of no group promoting vice or emptiness, he is made by honest, industrious men of high professional ethics doing their job, "informing" and educating us. He is made by all of us who willingly read about him, who like to see him on television, who buy recordings of his voice, and talk about him to our friends. His relation to morality and even to reality is highly ambiguous (posição 927). 
Celebrities populate our horizon with men and women we already know. Or, as an advertisement for the Celebrity Register cogently puts it, celebrities are "the 'names' who, once made by news, now make news by themselves". Celebrity is made by simple familiarity, induced and reenforced by public means. The celebrity therefore is perfect embodiment of tautology: the most familiar is the most familiar (posição 982).

domingo, 5 de janeiro de 2014

O arquétipo da criança de Jung em Helnwein

The Song I (1981), aquarela, Gottfried Helnwein

"O motivo da criança representa a pré-consciência, o aspecto da infância da psique coletiva"¹ (p.111)

"Graças à interpretação religiosa da 'criança', uma grande parte das evidências que chegaram a nós da Idade Média mostram que a 'criança' não era apenas uma imagem tradicional, mas uma visão espontaneamente vivenciada (a tão chamada 'irrupção do inconsciente'). Estou me referindo à visão de Mestre Eckhart do 'garoto nu' e do sonho de Irmão Eustachius"² (p.106).

The Murmur of the Innocents 5 (2009), tinta a óleo e acrílica em tela, Gottfried Helnwein

"Na realidade psicológica, no entanto, a idéia empírica da 'criança' é apenas o meio (senão o único existente) de expressar um fato psíquico que não pode ser formulado mais precisamente. Por isso, da mesma forma que a idéia mitológica da criança é enfaticamente não uma cópia da criança empírica, mas um símbolo claramente reconhecível como tal: em circustâncias totalmente extraordnárias e não - este é o ponto - uma criança humana. Suas façanhas são milagrosas ou monstruosas, assim como sua natureza e composição física. Simples e unicamente por conta dessas propriedades altamente não-empíricas, é totalmente necessário falar de um motivo da criança"³ (p.111)

JUNG, Carl G.; KERÉNYI, C. Introduction to a Science of Mythology. The myth of the divine child and the mysteries of Eleusis. Londres: Routdledge & Kegan Paul LTD, 1951


1. The child-motif represents the pre-conscious, childhood aspect of the collective psyche (p.111).

2. Thanks to the religious interpretation of the "child", a fair amount of evidence has come down to us from (p.107) the Middle Ages, showing that the "child" was not merely a traditional figure, but a vision spontaneously experienced (as a so-called "irruption of the unconscious"). I am thinking of Meister Eckhart's vision of the "naked boy" and the dream of Brother Eustachius.

3. In psychological reality, however, the empirical idea "child" is only the means (and not only one) to express a psychic fact that cannot be formulated more exactly. Hence by the same token mythological idea of the child is emphatically not a copy of the empirical child, but a symbol clearly recognizable as such: quite extraordinary circumstances, and not - this is the point - a human child. Its deeds are as miraculous or monstrous as its nature and physical make-up. Simply and solely on account of these highly unempirical properties is it necessary to speak of a "child-motif" at all (p.111).