terça-feira, 2 de julho de 2013

Fotos coloridas do Terceiro Reich são encontradas em arquivos da Life

Artigo publicado na Motherboard


O partido de Hitler é conhecido pelo grande uso de simbolismos em suas campanhas. Hoje, a utilização de bandeiras enormes, águias gigantes e públicos massivos e alinhados tem merecidamente deixado uma impressão sinistra e tem sido efetivamente copiada em ficções que emulam estados totalitaristas brutais. Ainda que muitos de nós saibamos quão poderosas a propaganda e a máquina imagética de Hitler foram, vê-las em cores nessa maravilhosa série fotográfica da revista Life é como um soco no estômago.


Recentemente, a revista Life tem resgatado de seus arquivos ótimas fotografias antigas e que, às vezes, sequer haviam sido vistas. (O tributo ao fotógrafo de guerra Larry Burrows é particularmente poderoso). Mas a Life se superou com a série de Hugo Jaeger, que foi um dos fotógrafos pessoais de Hitler.


Ver cidades inteiras adornadas por bandeiras com a suástica é assustador. Mas vê-las em cores é ver quão chocantes são essas bandeiras vermelhas, no cenário. É como uma maré vermelha inundando cada canto de uma cidade.

É óbvio que essa era a impressão que Hitler e sua máquina de propaganda queriam; que o partido nazista era uma força imparável e a única opção era se juntar a ele.


O poder de Hitler tem parte de sua origem no simples culto das estéticas com as quais ele compactuou. Ao se deparar com tal incrível e eficiente máquina, a qual parecia pintar tudo de vermelho, por onde quer que passasse, era difícil alguém divergir. E conforme Hitler foi ganhando poder, isso ficou cada vez mais forte.


Mas imagens sozinhas, ainda que poderosas, não podem sustentar um movimento político sozinhas. Enquanto o partido nazista fazia sucesso essencialmente por dizer "Veja, todos estão conosco, junte-se a nós ou será deixado para trás (ou assassinado)", isso não era 100% bem sucedido. Dissidentes, tanto nacional quanto internacionalmente, continuaram existindo. Enquanto Hitler retratava seu "Reich de Mil Anos" como invencível e abrangente, ao mesmo tempo em que cometia indizíveis atrocidades durante seu reinado, os Aliados mantiveram esse legado por apenas dez anos.


Tal grosseira simplificação é uma parte básica de qualquer livro de história do século XX, mas as fotos em preto e branco às quais nós estamos acostumados a acompanhar simplesmente não retratam a cena nem perto daquilo que elas parecem, em cores. Apesar do tema, as fotos de Jaeger são tecnicamente impressionantes. O filme 35mm Kodachrome foi lançado em 1936 e foi apenas depois disso que a fotografia em cores foi lentamente chegando às mãos dos profissionais.

É até mesmo um exemplo incrível de como desenvolvimentos técnicos podem ser incríveis, mesmo no campo das artes; poucos anos depois do advento comercial e tecnológico da filmagem em cores, ela passou a ser usada para criar imagens que evocassem ainda mais emoções do que as fotografias em preto e branco, assim como é até hoje. Nesse sentido, as habilidades de Jaeger com a nova mídia é notável se nos basearmos em seu portfolio, apesar de este ter sido infelizmente e em boa parte utilizado para documentar a vida do mais notório vilão da história. Mas isso é o que é mais fascinante dessas fotos, especialmente do ponto de vista da inovação. Eu duvido que químicos especialistas em filmes fotográficos que adivinharam como replicar cores esperaram que elas seriam para propaganda tão rapidamente.


Mas tão chocante quanto sejam essas imagens são em cortes, é importante lembrar que enquanto a máquina de propaganda hitlerista era poderosa, ela não era suficiente. Assim como o editor da Life.com Ben Cosgrove escreve em seu artigo que acompanha as fotografias, o qual você deve ler, "nunca é demais lembrar é preciso mais do que emblemas - não importa quão autoritários eles possam ser, ou quão transcendentais eles podem parecer - para transformar um movimento em uma força política, social e militar estável.


E essa é a verdade. Há um motivo pelo qual o partido nazista usou tão fortemente os simbolismos que têm sido objeto de caricaturas em filmes como 1984 e Death Race 2000: não é algo simples e politicamente unidimensional, mas também historicamente. O conceito de cobrir todo metro quadrado de espaço público com bandeiras representando o Partido, qualquer que este seja, é um truque antigo, e um dos quais nós quase automaticamente associamos a governos totalitaristas.

É porque pensamento livre requere estética livre, se empurrarem despoticamente imagens em sua face, isso irá trapacear a sua mente, e alguns irão sempre contrariar. Se olhar as fotos digitalizadas de algo maligno morto 80 anos atrás, em sua tela, fez suas batidas cardíacas aumentarem, então você entende totalmente.

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